Batendo Boca com o 5Bocas

quinta-feira, agosto 24, 2023

A BICICLETA DO CAOLHA    

 

O time de pelada das 5bocas era muito bom e por essa razão, constantemente era convidado para os famosos “times-contra”, aqueles jogos amistosos, que de amistoso não tinha nada, jogos em que os times se matavam em campo pela vitória.

 

Os nossos jogadores também se matavam por uma vaga na equipe, que era comandado pelo misto de mecenas às avessas, técnico e falso jogador Arnaldo “pepeta”, que por sinal, era filho do dono do bar das 5bocas e namorado da irmã do ponta direita Manel “caolha”.

 

Por essa razão, sempre que o Manel era escalado, havia muita reclamação nos bastidores dos concorrentes insatisfeitos. Muitos ironizavam a sua escalação, chamando maldosamente a equipe de “Força máxima”, só para desdenhar da confirmação de Manel no ataque, por conta de uma possível prática de nepotismo, maldade pura.

 

Mas sei que todos queriam ver seus nomes escritos no quadro negro que ficava pendurado no bar, com o nome dos 11 titulares da partida do dia seguinte, um costume bem diferente de alguns treinadores do futebol atual.

 

Por outro lado, Manel era muito bom jogador, formado na base do Futebol de salão do clube Mackensie do Méier, foi inclusive campeão carioca nas categorias de menores de 12 anos, senão me engano pré-mirim, o cara era contemporâneo no plantel do Mackensie, do grande pivô Jorginho, que foi campeão do mundo de futebol de salão na longínqua década de 90.

 

Manel era também um eterno gozador, sacaneava todo mundo, contava e fazia piada de tudo, era um pilhador nato. Talvez essa tenha sido a grande razão de tanta rejeição dos colegas e concorrentes de posição.

 

Ocorre que naquele dia, Manel tinha sido escalado como titular contra o fortíssimo time do OLÉ da Água Santa, um timaço de veteranos que tinha em suas fileiras alguns ex-jogadores do futebol profissional e do futebol de salão, gente do naipe do ex lateral Alfinete do Vasco e da fera do salonismo carioca  Bente, entre outros. Era a maior “responsa” e pressão total sobre os ombros do caolha que teria que mostrar suas virtudes no campo do Conceição, no bairro da Agua Santa.

 

Jogo bom, chances lá e cá a todo momento e de repente, cruzamento fechado, passa por todo mundo e a bola “acha” Manelzinho no meio da grande área, que sem deixar a bola cair, emenda uma belíssima meia bicicleta e marca o 1x0 para o time das 5bocas.

 

Manel sai correndo feito um louco, comemorando adoidado, numa explosão de alegria e sem deixar que ninguém pudesse lhe abraçar, só que depois de uns 50 metros correndo alucinado, ele se deu conta que todo mundo tinha virado as costas e seguido para o seu próprio campo com jeitão contrariado, ele nunca tinha visto nada igual.

 

Em todos os jogadores, havia lá no fundo muita alegria pela abertura do placar, mas não se podia expressar, dar o braço a torcer, reconhecer que o nosso “ponta”, tinha aberto o placar com um golaço de placa.

 

O OLÉ empatou o jogo com um balaço do ex-jogador dos gramados Alfinete, lá do meio de campo. Ele que tinha um canhão nos pés e o jogo terminou em 1x1 mesmo, foi um jogaço que nos deixou muito satisfeitos por um lado, mas meio chateado por outro, pois teríamos que aturar as sacanagens do Manel por uns 2 a 3 meses, só falando do golaço, foi dose para leão essa época.

 

Manel naquele dia deve ter se sentido recompensado, nem deve ter dormido direito, com a imagem ainda nítida daquele golaço em sua retina, quieto em sua cama na hora de dormir, imaginando todos os ângulos daquela pintura, pena que não foi filmado por um celular, que naquela época, ainda não existia o smartphone, mas sim um “tijolão”, que só efetuava ligações telefônicas, uma pena.

 

Nos pés daquele adulto com alma de criança e espírito alegre, também tinha futebol e dos bons, Manel provou naquele dia que não era só um cunhado de sorte, que era capaz de produzir grandes jogadas e de deixar seu nome na história das 5bocas, com muita justiça e bom futebol.

 

Um forte abraço “caolha”!

Você tá fazendo falta na resenha com suas histórias divertidíssimas, curta bastante a terra do Tio Sam e fica com deus.

 

Forte abraço

Serginho5bocas 

10 Comentários:

  • Será que foi ele que criou a frase: " vão ter que me engolir " ?

    Por Anonymous Anônimo, Às 24 de agosto de 2023 às 10:59  

  • Fala Serginho quem fala é China esse personagem conheço bem além do grande humor um cara especial jogava muito vários embates tivemos no diamante lembra jogamos juntos no River parabéns pelo texto.

    Por Anonymous Anônimo, Às 24 de agosto de 2023 às 11:27  

  • Belo relato,todo peladeiro tem seu sentimento de alegria em suas peladas,jogos contra e cada vez mais se fortalecia às amizades e os confrontos também...kkkkk

    Por Anonymous Anônimo, Às 24 de agosto de 2023 às 11:34  

  • Assim vc me faz chorar, grande matéria meu amigo. Não vai faltar matéria falando sobre meus gols. E o de falta na gaveta a lá zico ? Grande e forte abraço meu irmão.

    Por Anonymous Anônimo, Às 24 de agosto de 2023 às 11:57  

  • Manelzinho meu camarada sempre brincalhão jogava muita bola e era sortudo kkk , parabéns pelo texto amigo serginho

    Por Anonymous Anônimo, Às 24 de agosto de 2023 às 12:37  

  • Sérgio, muito bom texto, como sempre.

    Por Anonymous Eiki, Às 25 de agosto de 2023 às 05:25  

  • Saudades dessa época... As vezes a pelada da rua era mais disputada do que os jogos chamados "contra", muito bom. Nenete era um bom PONTA DIREITA.

    Por Blogger Mumu, Às 26 de agosto de 2023 às 08:03  

  • Grande texto meu cumpadre Serginho 5 bocas. Pena que eu não cheguei a jogar no time do 5 bocas kkkkk. Zaca

    Por Anonymous Anônimo, Às 26 de agosto de 2023 às 11:04  

  • Que maravilha!!! Na minha pelada também tinha um Caolha e ele mesmo se zoava com o apelido! Lembro bem do Jorginho, cracaço!

    Por Anonymous Anônimo, Às 30 de agosto de 2023 às 04:01  

  • Esse último comentário foi de seu seguidor Sergio Pugliese.

    Por Anonymous Anônimo, Às 30 de agosto de 2023 às 04:04  

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