Batendo Boca com o 5Bocas

sábado, abril 07, 2012

A MAIS DOCE DERROTA DO 5BOCAS

A MAIS DOCE DERROTA DO 5BOCAS...

Em 1º de maio de 2012 estará fazendo 20 anos que o melhor time de pelada que participei perdeu uma final de campeonato histórica. Considero aquela partida, como a derrota mais gloriosa do meu time, o “5bocas”. A derrota, apesar de doída, nos ensinou muitas lições, entre elas: Superação de estar perdendo no primeiro tempo por 4x0 e reunir forças para vencer o segundo tempo por 5x2, mesmo ciente de que na soma total dos dois tempos (5x6), não tenhamos vencido o jogo. Respeito por todos os amigos e fãs que foram torcer por nós naquele dia e ficaram frustrados e atônitos ao ver sermos literalmente “atropelados” no primeiro tempo e depois felizes pela nossa recuperação sensacional no segundo, num final de jogo de tirar a respiração e finalmente de reconhecimento, pois ambos os times saíram de quadra cientes de que tinham enfrentado uma grande equipe e que qualquer um poderia ter vencido.

Mas vamos lá que o resto é história...


Priiiiiiii! Apita o arbitro o fim do jogo, o time base adulto de futebol de salão do Mackensie do Meier naquele 1º de maio de 1992, vence por 6x5 o time de pelada das 5Bocas. Aquele 1º de maio não seria o último torneio do dia do trabalho no clube diamante no engenho de dentro, mas com certeza o mais emocionante no qual eu participei, apesar da derrota e do vice-campeonato. Naquele dia perdemos a possibilidade de sermos tri campeões, pois havíamos vencido em 91 e venceríamos novamente em 93 o torneio de futebol de salão mais desejado daquele lugar, mas de qualquer modo, acho que fizemos história por aquelas bandas, isto é o que conta passados tantos anos.
            Voltando 34 anos no tempo, mas precisamente em 1978, em que a primeira formação do time das 5 bocas foi montada, já faziam parte de suas fileiras Serginho (este “pseudo” escriba) e o Manel ambos com 11 anos, que com o tempo se juntariam ao Vanusa, Jurandir, Ivan, Neném, Alex, Foat, Jorjão, Fernando, Marcelo Paz, Milton, Iran, Cesar, Dinho, Jorginho do Ríver, Formiga e tantos outros.
            Time gerenciado pelo polêmico Arnaldo, misto de técnico, mecenas e jogador, que na véspera de cada partida, erguia um mini quadro negro na parede do bar e com giz branco, escalava o time que sairia jogando no dia seguinte. Aquele ritual era o que havia de melhor antes dos jogos, pois ficávamos com muita ansiedade para saber se estávamos escalados, mas também gerava uma confusão dos diabos, pois nunca conseguiu agradar a todos. Porém, a galera adorava jogar naquele time, se encontrar naquele bar, discutir aquelas resenhas e comer o peixe que ali era frito para saborearmos após os jogos, comemorando as vitórias ou chorando as magoas nas derrotas, “sempre injustas” pra variar.
            Bar de esquin,a de 5 ruas entrelaçadas e abençoadas pelo seu “Tião”, pai do Arnaldo e o dono do estabelecimento naquela época, uma figura mítica, um botafoguense alucinado e supersticioso (desculpe o pleonasmo), que adorava dar conselhos e fiados e lembrar sempre que Garrincha era muito melhor do que o Pelé e que Zico não servia nem pra limpar a chuteira do Mané. Um grande ser humano que nos deixou na saudade indo para o céu após a copa do mundo de 1994 e que pouco depois disso, talvez pela sua própria ausência, antecipou o fim daquele bar, daquele time e daquela época. Um tempo depois já na década de 2000 participei de um concurso de crônicas no site Ziconarede tendo uma crônica entre as quatro premiadas com um texto que homenageava aquela esquina, com o seu Tião e o meu grande ídolo Zico como pano de fundo.
            Voltando àquele 1º de maio de 92, em que fomos vencendo todo mundo até sermos batidos na final pelo time adulto do Mackensie por 6x5, resultado que na época foi muito contestado por acharmos que ocorreram erros de arbitragem (filmados e não filmados). Jogo que reza a lenda chancelada por alguns torcedores “doentes” pelo 5bocas, que foi arranjado para nos eliminar, impedindo o tri, mas que na realidade hoje friamente posso afirmar que qualquer um que vencesse seria justo.

Lá no fundo, talvez tenha sido até mais justo que eles tenham vencido naquele dia, pois eles tinham ótimos jogadores (Tatu, Marcos Vinicius, Marquinho e Beto no gol), mais organização tática no posicionamento em quadra e tiveram a sorte e o talento em momentos cruciais da partida. Quanto a nós, tínhamos talentos para enfrentá-los, mas éramos um time de pelada, com ótimas opções individuais, mas sem jogadas ensaiadas, sem tática, um futebol “bruto”, pois tinhamos um entrosamento intuitivo, nada ensaiado.

Naquele dia, por incrível que pareça, entramos tranqüilos e achando que poderíamos vencê-los, mas com poucos minutos, eles aproveitaram algumas bobeadas de nossa defesa e abriram 2x0 em apenas 7 minutos, com uns 15 minutos já estavam com 4x0 e a maioria dos presentes na quadra, nos vaiavam e nos provocavam com cânticos. Lá pelo final do primeiro tempo é que conseguimos reagir e chutar em gol pela primeira vez. Acho que nunca torci tanto para um intervalo chegar como naquele dia.

Fomos para o intervalo e sentamos na quadra, houve um silêncio inicial que não era comum e depois todos falavam ao mesmo tempo, estávamos atordoados e não entendíamos o que estava acontecendo, todos tínhamos a solução para aquele problema, mas não conseguíamos pôr em prática. Lembro de uma única coisa que foi falado, mas não lembro por quem, que norteou nossa reação no segundo tempo. Acho que foi algo mais ou menos assim;    “Pessoal, o que está havendo? Vamos entrar no jogo? Perder tudo bem, mas dessa forma?
Só sei que voltamos diferentes e passamos a marcá-los por pressão, fomos pro tudo ou nada, já que perder de 4 ou de 10 não faria a menor diferença.

Todos ficamos envergonhados e voltamos com outro espírito e acreditando na reação. Foi muito bacana ver a doação de todo mundo que mesmo cansados, nos multiplicávamos em cada dividida e em cada chute à gol, conseguindo encontrar forças para pressionar a saída de bola deles e reagir heroicamente, quase empatando a partida.

Quando o juiz apitou o final da partida veio na hora o gosto amargo da derrota, uma tristeza sem fim, por achar que se tivéssemos mais tempo poderíamos empatar e até vencer e uma sensação frustrante por não termos iniciados a partida naquele ritmo.
Ninguém quis brigar ou ficar reclamando do juiz, muito pelo contrário, apesar de acharmos que fomos prejudicados pela arbitragem em lances capitais, ao invés disso, demos os parabéns a eles pela vitória na bola. Eles souberam tirar proveito da nossa sonolência inicial e administrar a nossa reação sem partir para a violência, jogando na bola.

Ao final do jogo, o Jaime “Vanusa” que fez o mesmo número de gols do Marquinhos do time deles, abriu mão da medalha de artilheiro e deixou ele levá-la já que não havia como premiar os dois.
O Sergio Creder que ficou de filmar todo o torneio para guardarmos uma recordação, filmou quase tudo, desligando a máquina justamente quando iniciamos a reação no 5x2 para eles, ficou nos devendo 3 gols e um dos campeões.
O técnico deles convidou alguns de nós para fazer parte do grupo deles que iria disputar o campeonato metropolitano do Rio de janeiro pelo Mackensie.

Por fim, no meio de tantas vitórias que seria bem mais lógico contar, escolhi justamente uma derrota a fim de mostrar o espírito daquela rapaziada que acima de tudo, sabia ganhar e perder na bola. Queria contar uma história bacana em que o resultado final da partida não fosse o que há de mais importante. Pensei em deixar uma mensagem de força e de união, pois o mais legal disso tudo, é que saímos tão fortalecidos naquele dia, que voltamos no ano seguinte e vencemos novamente, apesar de nunca mais enfrentarmos aquela equipe que nos venceu. E vejam só que ironia, pois das 12 partidas (4 por ano) que fizemos nos 3 torneios de 1991, 1992 e 1993, a única derrota que sofremos, foi a que me trouxe a inspiração para escrever e compartilhar com todos os peladeiros.  Afinal, quantas derrotas sofremos todos os dias na bola e na vida e que na maioria das vezes nem temos a chance de vingá-las?


Pra minha grata surpresa o Sergio Pugliese do OGLOBO também postou esta crônica.
Segue o link para o Blog da "Pelada como ela é":
http://oglobo.globo.com/blogs/pelada/
Um forte abraço
Serginho5bocas


0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]



<< Página inicial