PELADA
DE VERDADE – Capítulo X
Jura 3x0 ... três gol meu
Galera
do time do 5bocas chegando de mais um jogo e o seu Tião pergunta para nós de
dentro do bar:
-
E ai rapaziada, quanto foi o jogo?
De
bate pronto como de costume, emenda Jura
-
três a zero... três gol meu! (sic)
Não
tinha jeito, o cara era bom de bola, fominha e como vocês podem atestar,
humilde. Esse era o Jurandir, o Basílio das 5bocas.
Essa histórinha ai em cima foi um "couverzinho", só um aperitivo do que a gente passava, abaixo segue uma mais longa das desventuras que o Jura aprontava conosco:
Essa histórinha ai em cima foi um "couverzinho", só um aperitivo do que a gente passava, abaixo segue uma mais longa das desventuras que o Jura aprontava conosco:
Fernando,
nosso goleiraço, só marcava jogo complicado e não seria diferente daquela vez.
O jogo era em Comendador Soares. O lugar era longe e feio pra caraiú rapaz. Todo
mundo duro, ninguém tinha carro, antão vamos de trem que é mais rápido. Rápido
era só força de expressão, porque era depois de Morro agudo e o campo margeava a
Dutra.
Descemos
na estação e parecia aqueles filmes de bang-bang antigos, aqueles fenos voando
e o vento uivando. Partimos seco para jogar e andamos muito e quando vi estava
dentro de uma favela e nem sei mais se já tinha cruzado a fronteira com outro
país, só sei que estava perdidão.
De
repente vimos um belo campo com ovelhas aparando a grama e algumas vacas na
lateral, muita bosta de cavalo, mas o gramado era lindo, oba!
De tanto andar, já
chegamos aquecidos e os caras no campo nos esperando. Só deu tempo de colocar o
uniforme correndo e pronto. Começa o jogo e abrimos rápido 2x0, um chocolate.
Ai
o Jurandir começa a querer brincar, dar lençol, canetinhas, chegar na linha de
fundo e voltar com a bola, uma festa. Sem falar que tinha a mania de falar muito e sempre
provocando os adversários. O cara era perigoso em todos os sentidos.
O caldo engrossou, os
caras foram ficando irritados e começaram a baixar o cacete. Não parava de
chegar gente e encostar na lateral do campo, intimidando nosso time que era só
de garotos, o mais velho tinha uns 20, era todo mundo adolescente e inexperiente.
Fui
ficando preocupado e pedi ao Jura para ficar na dele, pois pressentia que
alguma coisa ruim poderia acontecer ali. Fomos tirando o pé do acelerador e das divididas e literalmente deixando
os caras fazer gols, tudo em nome de nossa segurança.
Jogo
encerrado 5x2 para os caras, eles zoando a gente e a gente abraçando eles,
dando parabéns e loucos para sair dali.
Só
que ainda tivemos que pagar uns caldos de cana, que por sinal estava quente,
para a alegria dos vendedores da favela.
Depois
de andar muito, sair da favela, do lugar e entrar no trem em silêncio e se dar
conta que já estávamos perto de Deodoro, ou seja, em segurança, é que
conseguimos dar boas gargalhadas daquele inferno e xingar o Jurandir de tudo que era nome, foi
um verdadeiro sufoco.
Jurandir
era assim, fazia muita besteira e a gente sempre segurava a onda.
O
cara era bom pra cacete, jogava muito. Tinha uma velocidade espantosa e ao
mesmo tempo que corria espantosamente, carregava a bola próxima ao pé com muita
habilidade e técnica.
Jura
foi um dos poucos caras que vi jogar futebol de salão e campo bem. Ele
conseguia trazer a habilidade do jogo em espaço curto das quadras para o latifúndio
que era o campo de 11, sem perder muitas de suas características.
Jura
tinha a antevisão da jogada do gol. Fazia muitos gols fáceis, que na verdade, nem
eram tão fáceis assim, ele é que fazia o gol parecer banal, pela sua excelente
colocação e percepção do desfecho do lance, sempre se antecipando aos zagueiros
e goleiros.
Tenho
saudades da nossa jogada preferida. Eu lançava do meio, ela (a bola) morria lá
na frente por sobre o lateral, ele balançava o zagueiro e a rede também e em
geral, quando não era gol eu tinha um pênalti para bater.
Ô
tempo bão!
Um forte
abraço
Serginho5Bocassergio5bocas@gmail.com
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