Batendo Boca com o 5Bocas

quarta-feira, maio 01, 2013


PELADA DE VERDADE – Capítulo X
Jura 3x0 ... três gol meu



Galera do time do 5bocas chegando de mais um jogo e o seu Tião pergunta para nós de dentro do bar:

- E ai rapaziada, quanto foi o jogo?

De bate pronto como de costume, emenda Jura

- três a zero... três gol meu! (sic)

Não tinha jeito, o cara era bom de bola, fominha e como vocês podem atestar, humilde. Esse era o Jurandir, o Basílio das 5bocas.

Essa histórinha ai em cima foi um "couverzinho", só um aperitivo do que a gente passava, abaixo segue uma mais longa das desventuras que o Jura aprontava conosco:


Fernando, nosso goleiraço, só marcava jogo complicado e não seria diferente daquela vez. O jogo era em Comendador Soares. O lugar era longe e feio pra caraiú rapaz. Todo mundo duro, ninguém tinha carro, antão vamos de trem que é mais rápido. Rápido era só força de expressão, porque era depois de Morro agudo e o campo margeava a Dutra.

Descemos na estação e parecia aqueles filmes de bang-bang antigos, aqueles fenos voando e o vento uivando. Partimos seco para jogar e andamos muito e quando vi estava dentro de uma favela e nem sei mais se já tinha cruzado a fronteira com outro país, só sei que estava perdidão.

De repente vimos um belo campo com ovelhas aparando a grama e algumas vacas na lateral, muita bosta de cavalo, mas o gramado era lindo, oba!

De tanto andar, já chegamos aquecidos e os caras no campo nos esperando. Só deu tempo de colocar o uniforme correndo e pronto. Começa o jogo e abrimos rápido 2x0, um chocolate.

Ai o Jurandir começa a querer brincar, dar lençol, canetinhas, chegar na linha de fundo e voltar com a bola, uma festa. Sem falar que tinha a mania de falar muito e sempre provocando os adversários. O cara era perigoso em todos os sentidos.

O caldo engrossou, os caras foram ficando irritados e começaram a baixar o cacete. Não parava de chegar gente e encostar na lateral do campo, intimidando nosso time que era só de garotos, o mais velho tinha uns 20, era todo mundo adolescente e inexperiente.

Fui ficando preocupado e pedi ao Jura para ficar na dele, pois pressentia que alguma coisa ruim poderia acontecer ali. Fomos tirando o pé do acelerador e das divididas e literalmente deixando os caras fazer gols, tudo em nome de nossa segurança.

Jogo encerrado 5x2 para os caras, eles zoando a gente e a gente abraçando eles, dando parabéns e loucos para sair dali.

Só que ainda tivemos que pagar uns caldos de cana, que por sinal estava quente, para a alegria dos vendedores da favela.

Depois de andar muito, sair da favela, do lugar e entrar no trem em silêncio e se dar conta que já estávamos perto de Deodoro, ou seja, em segurança, é que conseguimos dar boas gargalhadas daquele inferno e xingar o Jurandir de tudo que era nome, foi um verdadeiro sufoco.

Jurandir era assim, fazia muita besteira e a gente sempre segurava a onda.

O cara era bom pra cacete, jogava muito. Tinha uma velocidade espantosa e ao mesmo tempo que corria espantosamente, carregava a bola próxima ao pé com muita habilidade e técnica.

Jura foi um dos poucos caras que vi jogar futebol de salão e campo bem. Ele conseguia trazer a habilidade do jogo em espaço curto das quadras para o latifúndio que era o campo de 11, sem perder muitas de suas características.

Jura tinha a antevisão da jogada do gol. Fazia muitos gols fáceis, que na verdade, nem eram tão fáceis assim, ele é que fazia o gol parecer banal, pela sua excelente colocação e percepção do desfecho do lance, sempre se antecipando aos zagueiros e goleiros.

Tenho saudades da nossa jogada preferida. Eu lançava do meio, ela (a bola) morria lá na frente por sobre o lateral, ele balançava o zagueiro e a rede também e em geral, quando não era gol eu tinha um pênalti para bater.

Ô tempo bão!


Um forte abraço
Serginho5Bocas
sergio5bocas@gmail.com

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