Batendo Boca com o 5Bocas

quinta-feira, outubro 25, 2012


OS PELADEIROS


Hoje não vou falar de craques do passado, do presente nem tampouco do futuro, vou dar espaço aos quase craques, aos peladeiros. Aqueles caras que vemos sair de casa com roupa de trabalho, mas por debaixo das calças ou dentro da mochila e em alguns casos, até mesmo na mala do carro, sempre vai o short, o meião e outros aparatos que compõem a vestimenta dele.

Vou começar a homenagem pelo “café com leite”, aquele que de tão ruim, nem conta, chuta pra qualquer lado que vale, normalmente ele tem uma coordenação motora sofrível, tem idade bem abaixo ou acima da galera da pelada, ou então tem irmã boa e não pode ser contrariado.

Um outro que não pode faltar, é o “bom de grupo”, é um cara que não joga pôrra nenhuma, mas é maneiro pra cacete, nunca falha na intera para o tira gosto, limpa os coletes, guarda a bola e tem carro grande, que é muito útil quando tem jogo fora.

Tem também o “papagaio”, que é aquele cara mais chato da pelada, fala pra caralho, só ele que sabe jogar, reclama de todos e de tudo, apita o jogo e quase sempre estraga a pelada com seu jeito sem noção, tem alma boa, mas é um mala.

Tem o “enganado”, que é aquele cara que já sai de casa nessa condição (de enganado), ou seja, a mãe ou a mulher diz que ele tá lindo, pede um gol pra ele, e a pior de todas as frases: diz que ele joga bola, pronto! Formô.

Outro que sempre está presente é o “brigão”, aquele cara normalmente policial ou ex-policial, bombeiro, halterofilista ou somente um brigão de rua mesmo, da antiga, daquela  época que ser bom de briga (até surgir a AR-15) era sinônimo de ter um respeitozinho na rua. Esse quer arrumar problema com todo mundo que é amigo, só não costuma ser brabo contra estranhos em jogos fora, ai normalmente nem aparece, é um final de comédia, mas se não der muito papo ele acaba sumindo.

O “caixa” é aquele cara que todo mundo vaza quando o fim do mês se aproxima, se ele puxa o caderninho, rala peito Mané, que fu...

Tem o “ruim de bola mesmo” que não serve nem pra “garrá no gol”, sempre chega cedo e tenta tirar o par ou ímpar, pra garantir vaga, porque senão, um abraço meu camarada.

Não pode faltar também o “cachaça”, esse nem quer jogo, senta no engradado mesmo e tá bom, está sempre com uma gelada ou um copo na mão, zoa todo mundo e está sempre de bem com a vida, a única contra indicação é que alguns deles quando passam da conta (sempre), choram, te abraçam, falam que te amam e por ai vai...é flórida!

E não existe pelada sem o “bichado”, que é aquele cara que parece a múmia, porque ama ter preso ao corpo uma joelheira, uma atadura, uma tornozeleira ou uma cocheira e em alguns casos mais graves, carrega com muita honra essa pôrra toda que eu falei de uma só vez, mas quando a bola rola ele esquece tudo e joga, o dia seguinte é que é sinistro, dói até a vista.

E pra finalizar tem o “boleiro”, que é o cara que joga muita bola, ou quase  jogou em algum clube ou sempre foi apenas peladeiro e todo mundo diz que era pra ter sido jogador, que com essa turma que joga hoje ele brincaria no meio de campo mole e o escambau. No fundo, no fundo, ele agradece, mas sabe que alguma coisa não saiu como deveria, teve que ajudar em casa, os estudos falaram mais alto entre outras infinitas possibilidades que nos mostra como é tênue a linha que sempre separa os homens dos meninos, pois o JOGO É BRUTO companheiro.

Todos os peladeiros apresentam algumas características em comum, amam a bola do jogo, amam o futebol, amam ver futebol, amam jogar uma pelada, pagam por tudo que falei neste parágrafo e todos tem pelo menos uma historia de glória para contar, senão, nunca foram peladeiros de verdade.

Ah, e antes que eu me esqueça, não tem essa de "vim" pra brincar, esse papo é a mais genuína conversa fiada. Peladeiro fominha que se preza, pode perder o sono, a namorada, o cinema e até o parto do filho, mas de jeito nenhum ele tolera perder, nem mesmo o par ou ímpar. Brincadeira de tu é rola, valeu?

Um forte abraço
Serginho5bocas