Batendo Boca com o 5Bocas

quarta-feira, setembro 06, 2023

 DINIZ É UM SOPRO DE ESPERANÇA

 

O treinador Fernando Diniz do Fluminense e agora da seleção brasileira, em breve poderá tornar-se um treinador que entrará para a história do futebol brasileiro, na verdade já entrou, seja pelo lado bom ou pelo mal...

 

Os pessimistas adeptos do casuísmo de um jogo feio que as vezes vence, mesmo sem brilho, adoram explicar que esse cara “não funciona”, porque não venceu nada relevante, ganhou um “carioquinha”, depois desse tempo todo.

 

Já os otimistas que gostam de um futebol bem jogado, que busca resgatar o futebol que fez o Brasil ser respeitado, torcem muito para que tudo dê certo para este jovem inovador. Sim, ele é inovador, poque ele não copiou ideias de ninguém, ele criou um jogo novo e simples, que até para uma pessoa leiga no assunto, dá para entender parte do racional.

 

Seu jogo tem a posse de bola como uma das premissas para cansar e sofrer menos, tentar manter maioria numérica em qualquer parte do campo que a bola esteja, para sempre conseguir sair com a bola trocando passes, tentando não dar chutões. Pressiona a saída de bola adversária para tentar recupera-la o mais rápido possível e talvez a única similaridade com o jogo posicional, seja abrir o jogo pelas laterais do campo, para expandi-lo quando a bola é dele e se compactar na marcação quando a bola é do adversário, reduzindo os espaços.

 

Confesso que tenho algumas ressalvas quando vejo isso acontecer com jogadores que não tem muita qualidade, mas ele trabalha fortemente o lado psicológico dos seus jogadores para terem confiança na execução das jogadas mais arriscadas, como aquelas de saída de bola desde a grande área até o campo do adversário e também treina o passe em pequenos espaços, fundamento importantíssimo para quem tenta jogar assim, pois até o goleiro entra na dança e tem que saber dançar.

 

Gosto deste jeito abusado, porque ao longo dos anos, assisti alguns grandes personagens do futebol bem jogado, alguns bem-sucedidos pelo olhar da critica e outros nem tanto. Alguns por muitos anos, outros por pequenos períodos, mentes abertas e criativas que felizmente deixaram saudades e que vou visita-los rapidinho aqui.

 

Antes de ver o Diniz, quando comecei a acompanhar o futebol, ouvi falar de um tal de Rinus Mitchel, treinador da laranja mecânica, apelido dado a Holanda da Copa de 1974, uma seleção que literalmente assombrou o mundo com um jogo difícil de copiar até hoje, quase 50 anos depois. Posse de bola, jogadores sem posição fixa, marcação pressão incluindo “blitz” com 6,7 jogadores sobre um adversário até roubar a bola, linha de impedimento, entre outros conceitos modernos demais para a época.

 

Claudio Coutinho era um fã declarado dos holandeses e tentou implementar aquelas ideias na seleção brasileira de 1978 sem sucesso. Talvez os brasileiros não estivessem preparados para tantas informações ou ele não tenha tido um bom laboratório em um clube antes de assumira seleção, mas pelo menos, passado aquela copa, ele conseguiu deixar suas ideias no Flamengo tricampeão carioca e campeão brasileiro de 1980, que ele comandou com maestria, preparando as bases para muitos títulos que viriam no curto prazo, nas mãos de seus sucessores.

 

Telê Santana é outro nome que deixou marcas no futebol brasileiro, seja em seus detratores que o acusam de escolher mal os jogadores e de ter um jogo muito sonhador e frouxo na marcação, seja pelos seus admiradores, que se encantaram com a forma de jogar das equipes que ele comandou. Apesar de não ter vencido uma copa do mundo, venceu todos os títulos possíveis que um clube poderia vencer em sua época e mesmo quando não venceu, convenceu o mundo de que uma equipe pode ser competitiva e bela ao mesmo tempo.

 

Johan Cruyjff que foi gênio da bola dento de campo, comandando a laranja mecânica de Rinus Mitchel, foi gênio também fora dele, perpetuando os conceitos holandeses no Barcelona e influenciando o jovem Guardiola que era volante de seu time, que não dava não mais de 2 toques na bola. Ali começava a semente do jogo posicional, que entre as suas bases, estava a ideia de pressionar a marcação quando não tem a bola para rapidamente recupera-la e espalhar os jogadores no campo para expandi-lo e possibilitar manter a posse quando estava com ela.

 

Curiosa mesmo foi a admiração de um gênio por outro, que foi muito bem retratada no episódio em que o São Paulo de Telê venceu o Barcelona de Cruyjff na final do mundial de clubes, já que ao ser perguntado por um repórter sobre aquela derrota, respondeu resignado após a aula do mestre: “Se é para ser atropelado, que seja por um Rolls Royce”. Atração magnética de gênios

 

Pep Guardiola, mudou a história do jogo e fez todo mundo seguir boa parte de seus conceitos, quando apareceu com o “tik-taka” do seu Barcelona. Agora é todo mundo tentando fazer do jeito dele. Aquele volante que bebeu da água do mestre Cruyjff, revolucionava tudo de novo, mantendo o futebol vivo, resgatando conceitos antigos e esquecidos, já que o futebol vinha sendo mantido respirando por aparelhos. Por onde passa deixa seu rastro de qualidade, seja na Espanha, na Alemanha e agora na Inglaterra.

 

Mas voltando ao Diniz e o seu “Dinizismo”, alguma coisa me diz que ele vai fazer história na seleção brasileira e talvez nem deixe espaço para o italiano Carlo Ancelotti chegar para a ceia. Para isso acontecer, será fundamental que ele consiga a adesão de suas ideias pelos medalhões da seleção para seguir sem faíscas e fagulhas da fogueira das vaidades do futebol.

 

Um cara que conseguiu implantar essas ideias, quando teve insumos com escassez de qualidade e quantidade, agora podendo escolher quem vai realizar cada função, me parece que as coisas tendem a dar certo.

 

Diniz é uma gota de qualidade no meio de um mar de mediocridade, no campo das ideias livres, sem amarras e sem medo de arriscar. Um cara simples, que se veste simples e que tenta convencer com humildade e conhecimento. Pelo que dá pra ver, no seu curto período previsto na seleção, os riscos são enormes, mas valem a pena correr.

 

A partir de sexta-feira, dia 7 de setembro, contra a Bolívia pelas eliminatórias, começaremos a ter uma prévia do que vem por ai. Para um cara que começou a impressionar com o pequeno Audax em Sampa, até que não está ruim não.

 

Diniz é um sopro de esperança que o Brasil volte a jogar futebol do jeito que o brasileiro gosta e eu estou na torcida, vai na fé!

 

A conferir...

 

 

Forte abraço

Serginho 5Bocas