Batendo Boca com o 5Bocas

segunda-feira, agosto 28, 2023

 

Homenagem ao grande ala direita do Melo Tenis Clube, Acyr Trindade, meu amigo do peito


O Gol contra!  

 

Lá pelas décadas de 50 e 60, existia um time muito respeitado na Vila da Penha, o Nacional F. C., time de várzea, que disputava o Quadrangular entre Igrejas protestantes da Zona da Leopoldina, representando a 5ª. Igreja Presbiteriana Independente da Praça do Carmo, da qual, o dono absoluto do time, o Seu Arildo, era o Presbístero.

 

Dono absoluto sim, porque além das camisas e calções, o Seu Arildo era o dono da bola, das redes das balizas , do apito, e,  mandava lavar as camisas e os calções ,  além de pagar  a “tômbula” (aluguel do campo), para quem não o pudesse, e, obviamente, arranjar a maioria dos jogos, um verdadeiro faz tudo.

 

 Ele, um Tenente do Exército, um cara alto, descendente de suíços, 1m90 de altura, magro e atlético. Dono de um preparo físico invejável para seus 45 anos. Tinha uma personalidade altamente alegre e comunicativa, mas extremamente correta e séria.

 

Na hora da distribuição das camisas, o Seu Arildo, assim falava: “a primeira camisa (a 11) é minha, porque eu sou o dono do time, a 2ª. (a 5) do Orlando, o craque, o “Centerhalf”, o armador das jogadas, e, as demais, distribuam, entre vocês, cada um na sua posição, e, de acordo, com os que vieram. Não havia briga, e, quando alguém sobrava, era acordado que entraria durante o decorrer da partida.

 

Seu Arildo era ponta-esquerda, mas só tinha força e muito preparo físico, pois, tecnicamente,  era um horror, mal controlava uma bola e seus chutes a gol passavam muito longe da meta adversária, alguns  lá perto da bandeirinha de “corner”. Uma tragédia.

 

Classificado pela rapaziada como um autêntico “perna de pau”!    Diziam as “más línguas” que ele só jogava, porque era o dono absoluto do time. Uma meia verdade, pois ele era o primeiro a sair quando, por ventura, alguém sobrava.

 

       Entretanto, o time era muito bom, pois tinha alguns craques,  como, por exemplo, além do já citado, Orlando (o “Centerhalf), o Goleiro Capial, o Beque Central Fernando, o Centro-avante Moisés, e, alguns jogadores regulares, mas muito esforçados, como o polivalente Lateral direito (ou esquerdo)  “Acyrsinho”, e,  o Quarto Zagueiro Walter que jogavam um “feijão com arroz”, mas sem comprometer. O “Acyrsinho” era chamado assim, no diminutivo, pois além de ser o 2º em idade, era o menor do time (1m70).

 

       Voltando ao jogo, o Nacional F. C. só dependia de um empate para sagra-se Campeão do Quadrangular, pois havia obtido o maior número de pontos nas partidas anteriores. O jogo final estava duríssimo com ambos os times “matando-se” em campo, havendo até umas jogadas mais ríspidas.

 

       Em uma dessa jogadas o Lateral Direito Acyrsinho ao disputar uma bola, no alto, com um forte atacante adversário, abriu o lábio inferior, que começou a sangrar muito. O Seu Arildo que era enfermeiro, e,  sempre  levava um estojo de primeiros socorros para os jogos, deu-lhe dois pontos no lábio, e, fez-lhe um curativo.  Acyrsinho passou a jogar todo o 2º tempo com o lábio não mais sangrando, mas inchado e doendo muito.

 

       Assim, faltando 3 minutos para o término da partida, e, portanto,  3 minutos para o Nacional sagrar-se Campeão do Quadrangular, pois como já dito, um empate bastaria , com o jogo 0  a 0, o “Sr.” Juiz marca um “corner” , contra o Nacional.

 

       O esquema defensivo era: Acyrsinho no 1º pau, Fernando e Walter na pequena área e Capial no gol, além de outros,  esperam pela batida do “corner”. Eis que surge, animado e confiante, o Seu Arildo, do alto de sesu 1m90, na entrada da pequena área, dizendo: “deixa comigo, deixa comigo, que essa eu tiro”.  

 

       Acyrsinho, Fernando e Capial, argumentam: “não,  Seu Arildo, deixa com a gente, vai lá pra frente”! Capial, ainda insiste: “vai lá pra frente, que eu lanço a bola para o sr.”. Walter (filho do Seu Arildo), fala mais enérgico: “Papai não fica aqui, vai lá pra frente”. Tudo em vão!

 

 

       A bola é lançada pelo ponta adversário, sobre a entrada da pequena área. Seu Arildo sobe numa grande impulsão, e, inacreditavelmente, balança a cabeça no alto, para a direita e para a esquerda, de uma forma totalmente esquisita, e, cabeceia, inapelavelmente, contra o gol do Nacional, fazendo com que a bola entre,   no alto do  canto direito. Capial ainda se estica todo, mas não consegue desviar a bola. Gol, gol, do time adversário.

 

       O time todo fica arrasado, não se diz uma palavra, ouvindo somente as palavras, talvez explicativas do Seu Arildo, que sai sorrindo amarelo e repetindo uma expressão bíblica : “ em tudo, dai graças, em tudo dai graças”!

 

       Naquele sábado, os colegas  do Acyrsinho do Mello Tênis Clube, não puderam contar com ele no baile, pois o mesmo permaneceu,  em casa, aplicando gelo sobre o seu lábio inferior inchado, e , sobre a sua cabeça mais “inchada” ainda, só pensando: “Grande“ Arildo!



Forte Abraço

Serginho 5Bocas

 

Homenagem ao Julinho e a todos os meninos boleiros das escolas deste Brasil afora.

Colaboração: Maria de Lourdes Trindade e Acyr G. Trindade

 

                           O Menino            

 

O menino sempre gostou de futebol. Era um craque.

O time de futebol de salão (hoje chamado de futsal) do 5º ano do Ensino fundamental, da escola em que estudava, tinha nele a sua principal força e   esperança.

Num determinado ano, acontecia o jogo final do Campeonato Intercolegial da Zona Sul da cidade e, embora, sendo ele, a principal estrela do time, não havia sido escalado como titular, porque havia “brigado” com o técnico e permanecia no banco, como reserva.

O jogo era na quadra do colégio em que estudava. O time adversário fez dois gols e o jogo aproximava-se do seu final, quando a torcida a favor, desesperada, começou a pedir a entrada do menino no time. O técnico, inicialmente não a atendeu, até que os próprios jogadores do time pediram a entrada dele, um deles, inclusive, pedindo para tirá-lo e colocar o menino. O técnico, então, fez a substituição.

 O menino jogava especificamente de “ala direita”, armando o time e também finalizando as jogadas, e, em poucos minutos levantou o astral dos companheiros ao fazer dois gols, empatando a partida.

Faltava um minuto para o término do jogo, quando o menino, numa jogada magistral, entrou na área adversária,  conduzindo a bola e “arrastando” o beque parado (hoje chamado de “fixo”) contrário para um canto da quadra, e, pisou na bola, na esperança que o “pivô” do seu time que vinha logo atrás, chutasse a gol. Como este não entendeu a jogada e passou direto pela bola, ele, deu um corrupio ultra veloz, e chutou forte e certeiro a gol, com o pé esquerdo. O colégio foi Campeão Intercolegial da Zona Sul da Cidade.

Os companheiros de time pularam em cima dele e os torcedores, a maioria, de alunos e pais e mães de alunos do colégio, invadiram a quadra para abraçá-lo.    

Forte abraço

Serginho 5Bocas