Homenagem ao grande ala direita do Melo Tenis Clube, Acyr Trindade, meu amigo do peito
O Gol contra!
Lá pelas décadas de 50 e 60, existia um time muito respeitado na Vila
da Penha, o Nacional F. C., time de várzea, que disputava o Quadrangular entre
Igrejas protestantes da Zona da Leopoldina, representando a 5ª. Igreja
Presbiteriana Independente da Praça do Carmo, da qual, o dono absoluto do time,
o Seu Arildo, era o Presbístero.
Dono absoluto sim, porque além das camisas e calções, o Seu Arildo era o
dono da bola, das redes das balizas , do apito, e, mandava lavar as camisas e os calções , além de pagar a “tômbula” (aluguel do campo), para quem não
o pudesse, e, obviamente, arranjar a maioria dos jogos, um verdadeiro faz tudo.
Ele, um Tenente do Exército, um cara alto, descendente de suíços,
1m90 de altura, magro e atlético. Dono de um preparo físico invejável para seus
45 anos. Tinha uma personalidade altamente alegre e comunicativa, mas
extremamente correta e séria.
Na hora da distribuição das camisas, o Seu Arildo, assim falava: “a
primeira camisa (a 11) é minha, porque eu sou o dono do time, a 2ª. (a 5) do
Orlando, o craque, o “Centerhalf”, o armador das jogadas, e, as demais,
distribuam, entre vocês, cada um na sua posição, e, de acordo, com os que
vieram. Não havia briga, e, quando alguém sobrava, era acordado que entraria
durante o decorrer da partida.
Seu Arildo era ponta-esquerda, mas só tinha força e muito preparo
físico, pois, tecnicamente, era um horror,
mal controlava uma bola e seus chutes a gol passavam muito longe da meta
adversária, alguns lá perto da bandeirinha
de “corner”. Uma tragédia.
Classificado pela rapaziada como um autêntico “perna de pau”! Diziam
as “más línguas” que ele só jogava, porque era o dono absoluto do time. Uma meia
verdade, pois ele era o primeiro a sair quando, por ventura, alguém sobrava.
Entretanto,
o time era muito bom, pois tinha alguns craques, como, por exemplo, além do já citado, Orlando
(o “Centerhalf), o Goleiro Capial, o Beque Central Fernando, o Centro-avante
Moisés, e, alguns jogadores regulares, mas muito esforçados, como o polivalente
Lateral direito (ou esquerdo) “Acyrsinho”,
e, o Quarto Zagueiro Walter que jogavam
um “feijão com arroz”, mas sem comprometer. O “Acyrsinho” era chamado assim, no
diminutivo, pois além de ser o 2º em idade, era o menor do time (1m70).
Voltando ao jogo, o Nacional F. C. só
dependia de um empate para sagra-se Campeão do Quadrangular, pois havia obtido
o maior número de pontos nas partidas anteriores. O jogo final estava duríssimo
com ambos os times “matando-se” em campo, havendo até umas jogadas mais
ríspidas.
Em uma dessa jogadas o Lateral Direito
Acyrsinho ao disputar uma bola, no alto, com um forte atacante adversário,
abriu o lábio inferior, que começou a sangrar muito. O Seu Arildo que era enfermeiro,
e, sempre levava um estojo de primeiros socorros para os
jogos, deu-lhe dois pontos no lábio, e, fez-lhe um curativo. Acyrsinho passou a jogar todo o 2º tempo com o
lábio não mais sangrando, mas inchado e doendo muito.
Assim, faltando 3 minutos para o término
da partida, e, portanto, 3 minutos para
o Nacional sagrar-se Campeão do Quadrangular, pois como já dito, um empate
bastaria , com o jogo 0 a 0, o “Sr.”
Juiz marca um “corner” , contra o Nacional.
O esquema defensivo era: Acyrsinho no 1º
pau, Fernando e Walter na pequena área e Capial no gol, além de outros, esperam pela batida do “corner”. Eis que surge,
animado e confiante, o Seu Arildo, do alto de sesu 1m90, na entrada da pequena
área, dizendo: “deixa comigo, deixa comigo, que essa eu tiro”.
Acyrsinho, Fernando e Capial, argumentam:
“não, Seu Arildo, deixa com a gente, vai
lá pra frente”! Capial, ainda insiste: “vai lá pra frente, que eu lanço a bola
para o sr.”. Walter (filho do Seu Arildo), fala mais enérgico: “Papai não fica
aqui, vai lá pra frente”. Tudo em vão!
A bola é lançada pelo ponta adversário, sobre
a entrada da pequena área. Seu Arildo sobe numa grande impulsão, e, inacreditavelmente,
balança a cabeça no alto, para a direita e para a esquerda, de uma forma
totalmente esquisita, e, cabeceia, inapelavelmente, contra o gol do Nacional,
fazendo com que a bola entre, lá no alto do canto direito. Capial ainda se estica todo,
mas não consegue desviar a bola. Gol, gol, do time adversário.
O time todo fica arrasado, não se diz
uma palavra, ouvindo somente as palavras, talvez explicativas do Seu Arildo,
que sai sorrindo amarelo e repetindo uma expressão bíblica : “ em tudo, dai graças,
em tudo dai graças”!
Naquele
sábado, os colegas do Acyrsinho do Mello
Tênis Clube, não puderam contar com ele no baile, pois o mesmo permaneceu, em casa, aplicando gelo sobre o seu lábio inferior
inchado, e , sobre a sua cabeça mais “inchada” ainda, só pensando: “Grande“
Arildo!
Forte Abraço
Serginho 5Bocas