Batendo Boca com o 5Bocas

sábado, novembro 10, 2012


OS CRAQUES DO PASSADO

 

 ZICO "O GALINHO DE QUINTINO"

 

 

Hoje vou escrever sobre o ídolo da minha vida. O cara que me fez virar Flamengo, isso mesmo, meu saudoso pai, seu Domingos, me uniformizava de Fluminense e eu pensava que gostava daquilo, coisa de filho para pai.

Mas ai veio a final do carioca de 1977 e apesar da derrota nos pênaltis, virei fã do Galinho e Flamenguista por tabela. Meu pai, educado, inteligente e com muito bom senso soube entender os apelos de um garoto dominado pelo magnetismo de um gênio do futebol e de uma torcida magnética e vibrante, não poderia realmente fazer nada para conter...

Voltando ao Rei Artur, hoje vou me esforçar para não virar lugar comum, não chover no molhado ou ser piegas, repetindo velhos clichês, vou tentar falar de Zico sem ser igual ao que já foi dito. Escolhi duas vertentes, na primeira parte falo do desprezo e pouco caso que sofreu dentro do Brasil e na parte final, sobre sua sina ou quem sabe falta de sorte com a camisa da seleção do Brasil.

Zico entrou na seleção tarde para os padrões de gênios, só debutou pela seleção  canarinho em 1976, prestes a completar 23 anos. Talvez a concorrência fosse enorme, pois há bem pouco tempo havíamos nos sagrados tri-campeões do mundo no México e ainda jogavam várias feras daquela época, sem contar os novos talentos trazidos por sucessivas “fornadas” de uma renovação constante de talentos do futebol brasileiro, o caminho era difícil.

No início, seus críticos chamavam Zico de craque de laboratório, um insulto, uma alcunha maldosa, por ele ter ganho massa muscular através de um trabalho de reforço inédito para os padrões da época. A ideia era ganhar corpo rapidamente para poder enfrentar os zagueiros que eram muito maiores. Mas na mente dos desafetos, plantavam a falsa história de que era uma forma desonesta de melhorar rendimento, como se fosse um doping. A ignorância era monstruosa, bem como covarde em relação ao Zico.

Outros chamavam-no de craque de Maracanã, pois diziam que ele só jogava bem no maior do mundo, que era medroso e pipoqueiro e que ao sair do seu galinheiro tremia e não rendia o mesmo futebol, como se ser o rei do maracanã fosse uma ofensa para alguém, só mesmo de uma cabeça mesquinha, uma ideia assim poderia sair.

 

Para se ter uma ideia das barbaridades que Zico sofria, uma vez em 1979, a seleção brasileira enfrentava o Ajax da Holanda em São Paulo e Zico fez gol que o placar eletrônico não registrou, congelando o placar da partida no número anterior, só voltando a atualizar, depois que outro jogador marcou um gol.

No inicio de 1983, logo após o tri brasileiro do Flamengo sobre o Santos no Maracanã, foi anunciada a sua venda para a Udinese. Pelé não hesitou em dizer que ele não daria certo na Itália, num misto de ignorância, arrogância e falta de respeito com um grande craque e colega de profissão. O tempo mais uma vez se encarregou de contradizer o Rei do futebol. Pelé não era realmente feliz com suas palavras e Zico mais uma vez teve que matar um leão para se impor.


 
Nada disso foi suficiente para destruir o galinho, muito pelo contrário, ele sempre soube separar o joio do trigo e a não guardar rancor dessa parte podre da imprensa e da torcida. Zico deixou o tempo se encarregar de mostrar aos críticos que estavam errados.

Zico também teve sérios problemas quando se tratava de jogar pela seleção Brasileira. Apesar de ter jogado 93 partidas e marcado 68 gols (média de 0,73) e apenas 4 derrotas, sendo apenas uma em tempo regulamentar de copas do mundo, Zico até hoje é visto por muita gente, principalmente no Brasil, como um perdedor.

Ele já começou com uma grande decepção pela seleção do BRASIL, ao ser cortado do grupo que iria a Olimpíada de 1972 em Munique, tendo em vista que ele ajudou a classificar o País, marcando o gol da classificação contra a Argentina. Foi um duro golpe aplicado pelo treinador Afonsinho e por forças ocultas.

Depois em 1978, chegou na copa como grande esperança e logo de cara, no jogo de estreia, apesar do Brasil ter jogado uma partida fraca, ele fez um gol de cabeça no último minuto do jogo, após escorar um corner batido por Nelinho. O Juiz da partida diz que encerrou a partida antes da bola entrar, mas no videotape é possível ver que ele não apitou o final da partida com a bola no alto, somente depois que viu a bola entra é que indicou o final da partida, Mais uma vez o galinho dava prosseguimento a sua sina.

Depois de ser barrado do time titular por pressão dos militares, Zico foi voltando aos poucos ao time e no jogo contra o Perú na fase decisiva, marcou um gol de pênalti, no jogo seguinte contra a Argentina, entrou bem no segundo tempo, deu um passe maravilhoso para Roberto marcar o gol da vitória, mas não aconteceu e na terceira partida contra a Polônia em que ele já tinha recuperado a vaga de titular, com 2 minutos de jogo, foi cruzar uma bola e abafado por Boniek, sofreu uma distensão muscular que o tirou da Copa e dos campos por um bom tempo.

Depois veio a Copa America de 1979 em que Zico estava voando e decidindo os jogos até sofrer nova distensão que o afastou das partidas decisivas contra o Paraguai. Sua ausência foi muito sentida e o Brasil perdeu o título.

Em 1982 na Copa da Espanha, quando finalmente Zico fazia uma grande Copa, perdeu para a Itália, num dos jogos mais dramáticos de todas as Copas, a chance de sua vida. Apesar de ter saído aplaudido e lembrado até hoje no mundo todo, a falta deste título é muito sentida por todos.

 

Em 1985 Zico sofre a pior contusão de sua vida e seus planos para a Copa de 1986 vão por água abaixo. Zico chega ao México sem as condições físicas ideais e ainda com muita dor em virtude da cirurgia no joelho. Vai entrando no time aos poucos e no jogo contra a França ele perde o pênalti que marcaria definitivamente sua carreira. O Brasil ainda perdeu inúmeras chances de matar o jogo e foi vendo a vitória escorrer pelas mãos até culminar com a disputa de pênaltis.

Ali todos já sentiam que a derrota se aproximava, a velha máxima afirma que quem não faz leva e levamos. Levamos uma ducha de água fria e Zico apesar de ter convertido sua cobrança, viu sua última chance de vencer a Copa do Mundo indo para bem longe, mantendo sua terrível sina com a camisa amarelinha.

Zico tem lugar de destaque no mundo do futebol, é idolatrado por idosos, homens de meia idade, jovens, adolescentes e crianças que nem viram ele jogar, foi Deus para torcida do Flamengo, ídolo na Itália e Mito no Japão. Por onde passou deixou seu rastro de qualidade, humildade, talento e profissionalismo. Mas uma coisa Zico não vai mudar, a tristeza de seus fãs por ele não ter ganho a Copa de Mundo.

Do fundo do meu coração, devolveria todos os títulos e alegrias que ele me proporcionou pelo Flamengo por uma Copa do Mundo para ele, só para ver seu imenso talento ser reconhecido Na totalidade e estar em seu devido lugar na história.

Encerro a crônica de hoje com uma frase que adoro repetir:

“Nunca fui tão feliz antes nem depois de Zico”
 

Um forte abraço
Serginho5Bocas