OS
CRAQUES DO PASSADO
ZICO "O GALINHO DE QUINTINO"
Hoje
vou escrever sobre o ídolo da minha vida. O cara que me fez virar Flamengo,
isso mesmo, meu saudoso pai, seu Domingos, me uniformizava de Fluminense e eu
pensava que gostava daquilo, coisa de filho para pai.
Mas
ai veio a final do carioca de 1977 e apesar da derrota nos pênaltis, virei fã
do Galinho e Flamenguista por tabela. Meu pai, educado, inteligente e com muito
bom senso soube entender os apelos de um garoto dominado pelo magnetismo de um
gênio do futebol e de uma torcida magnética e vibrante, não poderia realmente
fazer nada para conter...
Voltando
ao Rei Artur, hoje vou me esforçar para não virar lugar comum, não chover no
molhado ou ser piegas, repetindo velhos clichês, vou tentar falar de Zico sem
ser igual ao que já foi dito. Escolhi duas vertentes, na primeira parte falo do
desprezo e pouco caso que sofreu dentro do Brasil e na parte final, sobre sua
sina ou quem sabe falta de sorte com a camisa da seleção do Brasil.
Zico
entrou na seleção tarde para os padrões de gênios, só debutou pela seleção canarinho em 1976, prestes a completar 23
anos. Talvez a concorrência fosse enorme, pois há bem pouco tempo havíamos nos
sagrados tri-campeões do mundo no México e ainda jogavam várias feras daquela
época, sem contar os novos talentos trazidos por sucessivas “fornadas” de uma renovação
constante de talentos do futebol brasileiro, o caminho era difícil.
No
início, seus críticos chamavam Zico de craque de laboratório, um insulto, uma
alcunha maldosa, por ele ter ganho massa muscular através de um trabalho de
reforço inédito para os padrões da época. A ideia era ganhar corpo rapidamente para
poder enfrentar os zagueiros que eram muito maiores. Mas na mente dos
desafetos, plantavam a falsa história de que era uma forma desonesta de
melhorar rendimento, como se fosse um doping. A ignorância era monstruosa, bem
como covarde em relação ao Zico.
Outros
chamavam-no de craque de Maracanã, pois diziam que ele só jogava bem no maior
do mundo, que era medroso e pipoqueiro e que ao sair do seu galinheiro tremia e
não rendia o mesmo futebol, como se ser o rei do maracanã fosse uma ofensa para
alguém, só mesmo de uma cabeça mesquinha, uma ideia assim poderia sair.
Para
se ter uma ideia das barbaridades que Zico sofria, uma vez em 1979, a seleção
brasileira enfrentava o Ajax da Holanda em São Paulo e Zico fez gol que o placar
eletrônico não registrou, congelando o placar da partida no número anterior, só
voltando a atualizar, depois que outro jogador marcou um gol.
No
inicio de 1983, logo após o tri brasileiro do Flamengo sobre o Santos no
Maracanã, foi anunciada a sua venda para a Udinese. Pelé não hesitou em dizer
que ele não daria certo na Itália, num misto de ignorância, arrogância e falta
de respeito com um grande craque e colega de profissão. O tempo mais uma vez se
encarregou de contradizer o Rei do futebol. Pelé não era realmente feliz com
suas palavras e Zico mais uma vez teve que matar um leão para se impor.
Zico
também teve sérios problemas quando se tratava de jogar pela seleção
Brasileira. Apesar de ter jogado 93 partidas e marcado 68 gols (média de 0,73)
e apenas 4 derrotas, sendo apenas uma em tempo regulamentar de copas do mundo,
Zico até hoje é visto por muita gente, principalmente no Brasil, como um
perdedor.
Ele
já começou com uma grande decepção pela seleção do BRASIL, ao ser cortado do
grupo que iria a Olimpíada de 1972 em Munique, tendo em vista que ele ajudou a
classificar o País, marcando o gol da classificação contra a Argentina. Foi um
duro golpe aplicado pelo treinador Afonsinho e por forças ocultas.
Depois
em 1978, chegou na copa como grande esperança e logo de cara, no jogo de
estreia, apesar do Brasil ter jogado uma partida fraca, ele fez um gol de
cabeça no último minuto do jogo, após escorar um corner batido por Nelinho. O
Juiz da partida diz que encerrou a partida antes da bola entrar, mas no
videotape é possível ver que ele não apitou o final da partida com a bola no
alto, somente depois que viu a bola entra é que indicou o final da partida,
Mais uma vez o galinho dava prosseguimento a sua sina.
Depois
de ser barrado do time titular por pressão dos militares, Zico foi voltando aos
poucos ao time e no jogo contra o Perú na fase decisiva, marcou um gol de pênalti,
no jogo seguinte contra a Argentina, entrou bem no segundo tempo, deu um passe
maravilhoso para Roberto marcar o gol da vitória, mas não aconteceu e na
terceira partida contra a Polônia em que ele já tinha recuperado a vaga de
titular, com 2 minutos de jogo, foi cruzar uma bola e abafado por Boniek,
sofreu uma distensão muscular que o tirou da Copa e dos campos por um bom
tempo.
Depois
veio a Copa America de 1979 em que Zico estava voando e decidindo os jogos até
sofrer nova distensão que o afastou das partidas decisivas contra o Paraguai.
Sua ausência foi muito sentida e o Brasil perdeu o título.
Em
1982 na Copa da Espanha, quando finalmente Zico fazia uma grande Copa, perdeu
para a Itália, num dos jogos mais dramáticos de todas as Copas, a chance de sua
vida. Apesar de ter saído aplaudido e lembrado até hoje no mundo todo, a falta
deste título é muito sentida por todos.
Em
1985 Zico sofre a pior contusão de sua vida e seus planos para a Copa de 1986
vão por água abaixo. Zico chega ao México sem as condições físicas ideais e
ainda com muita dor em virtude da cirurgia no joelho. Vai entrando no time aos
poucos e no jogo contra a França ele perde o pênalti que marcaria
definitivamente sua carreira. O Brasil ainda perdeu inúmeras chances de matar o
jogo e foi vendo a vitória escorrer pelas mãos até culminar com a disputa de pênaltis.
Ali todos já sentiam que a derrota se aproximava, a velha máxima afirma que quem não faz leva e levamos. Levamos uma ducha de água fria e Zico apesar de ter convertido sua cobrança, viu sua última chance de vencer a Copa do Mundo indo para bem longe, mantendo sua terrível sina com a camisa amarelinha.
Zico
tem lugar de destaque no mundo do futebol, é idolatrado por idosos, homens de
meia idade, jovens, adolescentes e crianças que nem viram ele jogar, foi Deus
para torcida do Flamengo, ídolo na Itália e Mito no Japão. Por onde passou
deixou seu rastro de qualidade, humildade, talento e profissionalismo. Mas uma
coisa Zico não vai mudar, a tristeza de seus fãs por ele não ter ganho a Copa
de Mundo.
Do
fundo do meu coração, devolveria todos os títulos e alegrias que ele me proporcionou
pelo Flamengo por uma Copa do Mundo para ele, só para ver seu imenso talento
ser reconhecido Na totalidade e estar em seu devido lugar na história.
Encerro
a crônica de hoje com uma frase que adoro repetir:
“Nunca fui tão feliz
antes nem depois de Zico”
Um
forte abraço
Serginho5Bocas