PELADA
DE VERDADE – Capítulo IV
A Bicicleta da
discórdia
O
time de pelada das 5bocas era muito bom e por essa razão, constantemente era
convidado para os famosos “time-contra”, aqueles jogos amistosos, que de
amistoso não tinha nada, jogos em que os times se matavam em campo pela
vitória.
Também
se matavam por uma vaga na equipe, todo o plantel do misto de mecenas as
avessas, técnico e falso jogador Arnaldo, que por sinal, era namorado da irmã
do ponta direita Manel.
Por
essa razão, sempre que Manel era escalado, havia muita reclamação nos
bastidores. Muitos ironizavam a sua escalação, chamando maldosamente a equipe
de “Força máxima”, só para desdenhar da confirmação de Manel no ataque.
Por
outro lado, Manel era muito bom jogador, formado na base do Futebol de salão do
clube Mackensie do Méier, foi inclusive campeão carioca nas categorias de
menores de 12 anos, senão me engano pré-mirim.
Manel
era também um eterno gozador, sacaneava todo mundo, contava e fazia piada de
tudo, era um empilhador nato. Talvez essa tenha sido a razão de tanta rejeição.
Ocorre
que naquele dia, Manel tinha sido escalado contra o fortíssimo time do OLÉ da Água
Santa, um timaço de veteranos que tinha em suas fileiras alguns ex jogadores do
futebol profissional e do futebol de salão. Era a maior “responsa” e pressão
total sobre os ombros do caolha.
Jogo
bom, chances lá e cá a todo momento e de repente, cruzamento na área, passa por
todo mundo e a bola “acha” Manelzinho no meio da área, que sem deixar a bola
cair, emenda uma meia bicicleta (as más línguas dizem que não tinha pedal) e
marca o 1x0 para os 5bocas.
Manel
sai correndo feito um louco, comemorando adoidado e sem deixar que ninguém
venha lhe abraçar, só que depois de uns 50 metros correndo alucinado, ele se
deu conta que todo mundo tinha virado as costas e seguido para o seu próprio
campo com jeitão contrariado, ele nunca tinha visto nada igual.
Em
todos os jogadores, havia lá no fundo muita alegria pela abertura do placar,
mas não se podia expressar, dar o braço a torcer, reconhecer que o nosso
pontinha tinha aberto o placar com um golaço.
O
OLÉ empatou e o jogo terminou em 1x1 mesmo, foi um jogaço que nos deixou muito
satisfeitos por um lado, mas meio chateado por outro, pois teríamos que aturar
as sacanagens do Manel por uns 2 a 3 meses, só falando do golaço, foi dose para
leão essa época.
Manel
naquele dia deve ter se sentido recompensado, nem deve ter dormido direito com
a imagem ainda nítida daquele gol em sua retina, quieto em sua cama na hora de
dormir, imaginando todos os ângulos daquela pintura, pena que não foi filmado.
Nos
pés daquele adulto com alma de criança e espírito alegre, também tinha futebol
e dos bons, Manel provou naquele dia que não era só um cunhado de sorte, que
era capaz de produzir grandes jogadas e de deixar seu nome na historia das
5bocas.
Um
forte abraço ao caolha
Serginho5bocas