A PELADA TÁ CONFIRMADA?
Um
dia qualquer na longínqua década de 80, terça-feira à noite, pouco antes das
20h, lá estava eu em pé na esquina das 5 bocas, esperando mais alguns jogadores
do meu time de pelada e de camisas, para subir a ladeira até o clube Diamante,
para jogar minha pelada semanal com horário fixo, era o famoso “time contra”.
Não
havia celulares nas mãos, para a busca frenética de confirmação de presença, não
permitindo que ficássemos mais ansiosos por um ok, do que pelo horário de
iniciar o jogo. Aquela geração era fominha de bola demais, para necessitar
deste tipo de procedimento, se marcou tava marcado fera, apesar dos furos que
ocorriam de vez em quando, era raro não ter pelada.
Se
isso ocorresse, ainda havia uma tábua de salvação, por conta dos inúmeros
boleiros que iam assistir a pelada, mas levavam um tênis na mão, na época o “All
látex”, que dez em cada dez peladeiros queriam ter um, para um possível chamado
a custo zero, para cobrir os furões. Assim, a máxima era: “sem pelada nem
pensar”, mas que dava uma brochada du karaiu, dava, já que a gente passava a
semana toda pensando no dia do jogo contra.
Quando
finalmente chegávamos ao clube, era um tesão da porra, toda aquela atmosfera do
antes do jogo. Aquecimento com chutes a gol, corridinhas e alongamentos e
cheiro de éter ou daquelas pomadas de cura milagrosa que não podem faltar no
kit peladeiro, antecedendo a bola rolar.
Outra
coisa muito legal eram os jogos de camisas. Aposto que todos os peladeiros que
se prezam, já conheceram um botafoguinho, um vasquinho, um palmeirinhas ou
qualquer outro time de pelada bom demais, que nunca perdeu. Exaltam e bradam a
plenos pulmões as façanhas daquele esquadrão da sua época de glória das peladas.
Isso não tem preço e não pode faltar na resenha depois da pelada, aos goles da
cerveja bem gelada, rindo de piada velha e não querendo ir embora nunca.
Também
chamava atenção da gente, quando estávamos de espectadores, os jogadores que
vestiam as camisas número 10 dos times. A gente ficava olhando os caras
aquecendo, dando chutes a gol e observando quem era o camisa dez do time.
Naquela época, por culpa do Pelé, era sempre o melhor jogador, pelo menos a
gente acreditava nisso. O que tinha de peladeiro com apelido de Zico ou Pelezinho
era brincadeira.
Hoje,
peladas com jogos de camisas são cada vez mais raras e nas que participo,
exigem consultas diárias nos aplicativos para assegurar que haverá quórum, deixando os
organizadores malucos por uma simples confirmação, outros tempos.
Para
se ter ideia da informalidade e da “brutalidade” que eram as peladas, já joguei
pelada de 11, no campo do “Faleiro”, em que começava com uns 6 para cada lado e
a cada dupla que ia chegando, separava-se um para cada lado, sendo um no time
“com” e outro no time “sem” camisas e o jogo seguia. No final, tinha uns 25 brabos
chutando para cada lado, uma zona organizada, que rolava até escurecer e
ninguém enxergar mais a bola. Ai a gente se resignava que havia acabado,
molhava os pés sujos de lama numa borracha de uma bica velha e voltava pra casa
amarradão, comentando os melhores lances com algum amigo do peito. Ô tempo Bão!
Triste
constatar que aqueles times temidos e acompanhados semanalmente nos horários
fixos das peladas por aí fora, praticamente não existem mais. Seria saudosismo ou
faz parte do pacote de razões que levaram a qualidade do futebol brasileiro
cair tanto? Se não temos mais campos, quadras, peladeiros jogando, como extrair
da garotada a nata para jogar? Dizem com muita propriedade que quantidade faz
qualidade, o tempo me provou isso. Do contrário, olhe e contemple a “savana”
que observamos hoje no futebol brasileiro.
Mas
afinal de contas, a pelada foi ou não foi confirmada? Um amigo diria que por
hora, o jogo foi descancelado (sic)...dorme com esse barulho, jogador!
Forte
abraço
Serginho
5Bocas