Batendo Boca com o 5Bocas

terça-feira, agosto 22, 2023

 

A PELADA TÁ CONFIRMADA?

 

Um dia qualquer na longínqua década de 80, terça-feira à noite, pouco antes das 20h, lá estava eu em pé na esquina das 5 bocas, esperando mais alguns jogadores do meu time de pelada e de camisas, para subir a ladeira até o clube Diamante, para jogar minha pelada semanal com horário fixo, era o famoso “time contra”.

 

Não havia celulares nas mãos, para a busca frenética de confirmação de presença, não permitindo que ficássemos mais ansiosos por um ok, do que pelo horário de iniciar o jogo. Aquela geração era fominha de bola demais, para necessitar deste tipo de procedimento, se marcou tava marcado fera, apesar dos furos que ocorriam de vez em quando, era raro não ter pelada.

 

Se isso ocorresse, ainda havia uma tábua de salvação, por conta dos inúmeros boleiros que iam assistir a pelada, mas levavam um tênis na mão, na época o “All látex”, que dez em cada dez peladeiros queriam ter um, para um possível chamado a custo zero, para cobrir os furões. Assim, a máxima era: “sem pelada nem pensar”, mas que dava uma brochada du karaiu, dava, já que a gente passava a semana toda pensando no dia do jogo contra.

 

Quando finalmente chegávamos ao clube, era um tesão da porra, toda aquela atmosfera do antes do jogo. Aquecimento com chutes a gol, corridinhas e alongamentos e cheiro de éter ou daquelas pomadas de cura milagrosa que não podem faltar no kit peladeiro, antecedendo a bola rolar.

 

Outra coisa muito legal eram os jogos de camisas. Aposto que todos os peladeiros que se prezam, já conheceram um botafoguinho, um vasquinho, um palmeirinhas ou qualquer outro time de pelada bom demais, que nunca perdeu. Exaltam e bradam a plenos pulmões as façanhas daquele esquadrão da sua época de glória das peladas. Isso não tem preço e não pode faltar na resenha depois da pelada, aos goles da cerveja bem gelada, rindo de piada velha e não querendo ir embora nunca.

 

Também chamava atenção da gente, quando estávamos de espectadores, os jogadores que vestiam as camisas número 10 dos times. A gente ficava olhando os caras aquecendo, dando chutes a gol e observando quem era o camisa dez do time. Naquela época, por culpa do Pelé, era sempre o melhor jogador, pelo menos a gente acreditava nisso. O que tinha de peladeiro com apelido de Zico ou Pelezinho era brincadeira.

 

Hoje, peladas com jogos de camisas são cada vez mais raras e nas que participo, exigem consultas diárias nos aplicativos  para assegurar que haverá quórum, deixando os organizadores malucos por uma simples confirmação, outros tempos.

 

Para se ter ideia da informalidade e da “brutalidade” que eram as peladas, já joguei pelada de 11, no campo do “Faleiro”, em que começava com uns 6 para cada lado e a cada dupla que ia chegando, separava-se um para cada lado, sendo um no time “com” e outro no time “sem” camisas e o jogo seguia. No final, tinha uns 25 brabos chutando para cada lado, uma zona organizada, que rolava até escurecer e ninguém enxergar mais a bola. Ai a gente se resignava que havia acabado, molhava os pés sujos de lama numa borracha de uma bica velha e voltava pra casa amarradão, comentando os melhores lances com algum amigo do peito. Ô tempo Bão!

 

Triste constatar que aqueles times temidos e acompanhados semanalmente nos horários fixos das peladas por aí fora, praticamente não existem mais. Seria saudosismo ou faz parte do pacote de razões que levaram a qualidade do futebol brasileiro cair tanto? Se não temos mais campos, quadras, peladeiros jogando, como extrair da garotada a nata para jogar? Dizem com muita propriedade que quantidade faz qualidade, o tempo me provou isso. Do contrário, olhe e contemple a “savana” que observamos hoje no futebol brasileiro.

 

Mas afinal de contas, a pelada foi ou não foi confirmada? Um amigo diria que por hora, o jogo foi descancelado (sic)...dorme com esse barulho, jogador!

 

Forte abraço

Serginho 5Bocas

 

AS ESQUISITICES DO FUTEBOL

 

O futebol provavelmente é a única modalidade de trabalho em que o empregado, jogador ou treinador, ganha remuneração do empregador, mesmo perdendo todas as partidas, ou seja, sem cumprir as metas. Na grande maioria dos casos, ainda ganham um adicional em caso de vitória, o famoso “bicho” ou premiações extras pelos títulos individuais e coletivos, uma “teta”.

 

Também temos casos insanos de treinadores, que são contratados a peso de ouro, perdem quase todos os jogos e títulos, e na hora que nenhum torcedor aguenta mais, eles ainda conseguem sustentar posição, até serem demitidos, forçando o recebimento de uma “farpelinha extra”. Ai recebem milionárias indenizações, por conta de altíssimas multas rescisórias, oriundas de contratos mal elaborados, seja por falta de planejamento adequando ou por má fé mesmo.

 

Em contrapartida, neste mesmo mundo, há treinadores que ligam para clubes para pedir emprego, gastam suas economias para contratar empresários especialistas em recolocação, a fim de buscar uma vaga em clubes grandes, tramando quedas ou “secando” o treinador atual, que pode ocorrer por falta de resultados ou por “lobby” de parte da imprensa, que escrevem as famigeradas matérias pagas.

 

Outros que caíram em esquecimento e não conseguem se recolocar, sofrem olhando esta fase atual de pré-profissionalismo do nosso futebol, em que as cifras pagas são estratosféricas e eles estão a margem dessa bonança, babando feito cachorro em frente a frangueira da padaria.

 

Outra singularidade, é que existem jogadores acima da média, que recebem gordos salários e premiações muito superior à dos seus companheiros, por seu próprio desempenho individual, sem ferir nenhum plano de cargos e salários, pratica muito comum nas grandes corporações do mercado formal de trabalho, mas incomum no mundo da bola. Em um mercado de trabalho trivial, atletas de nível inferior ou duvidoso, entrariam com uma ação na justiça do trabalho, buscando isonomia, a famosa equiparação salarial ao companheiro gênio da bola, mas no mundo da bola isso não ocorre.

 

Muitos jogadores de hoje em dia são treinados para falar em público, possuem “staff” com profissionais para cuidarem de suas próprias carreiras e passeiam cheio de joias e fones de ouvido, pelos saguões dos aeroportos, fingindo não ver ninguém, se distanciando dos fãs, feito prima-donas, estrelas de cinema, no andar superior da arrogância, até a “peteca” cair. Quando isso ocorre, eles aparecerem em público, com cara de tristeza, em um daqueles programas de TV sensacionalistas do mundo da bola ou naqueles canais da web que fazem qualquer coisa por um “Like”, reclamando que ninguém ajuda eles. Traduzindo: gastam todo o patrimônio da carreira sem controle e depois trazem o boleto para nós pagarmos. É brincadeira um negócio desses?

 

Definitivamente, o mundo da bola é singular demais pro meu visual e cheio de esquisitices!

 

Forte abraço

Serginho 5Bocas