Batendo Boca com o 5Bocas

domingo, abril 08, 2012

O PELADEIRO


E O QUE É SER PELADEIRO
Peladeiro é um gozador da vida, é um cara que aproveita como poucos as poucas horas dos encontros (em geral) semanais e praticamente nunca abre mão desta terapia. Lá ele sacaneia os amigos e a si mesmo sem perdão, “perde o amigo, mas não perde a piada”.

Peladeiro não acorda cedo, ele nem dorme se a pelada for de manhã. Fica louco na véspera e nas horas que antecedem a pelada, mas fica arrasado e louco de verdade, se ela não acontecer porque o adversário não veio ou porque os “falsos” peladeiros não deram quorum, é de lascar!

Peladeiro fiel é aquele que só tem uma pelada, o volúvel, quer jogar com todas, em vários campos, com muitos amigos, mas ama todas as peladas, cada uma do seu jeito.

Peladeiro trás sempre as marcas das batalhas:  uma torção de tornozelo, uma platina pelo corpo e é claro que não pode faltar uma cirurgia, de preferência no joelho, é seu lastro, seu pedigree, seu cartão de visitas...

Peladeiro não tem academia pra reforçar a musculatura e nem tem psicólogo, a pelada é seu momento relax, seu afrodisíaco, sua terapia.

Peladeiro é um sonhador, dorme com a bola e não larga ela por nada, sonha feito criança com as jogadas que gostaria de executar e se as coisas não vão bem na vida de verdade, é lá na pelada que ele vai desencanar e esquecer dos problemas.

Peladeiro que se preza já pulou na casa da vizinha pra pegar a bola que seria furada se ele não chegasse a tempo, já fez “vaquinha” pra comprar uma bola nova e já rasgou muita calça comprida de escola quando matava a aula pra bater uma bolinha.

Quem não é peladeiro não entende o que se passa na cabeça de um...


ONDE O PELADEIRO JOGA?
Peladeiro não tem hora nem local, pode ser bem cedinho ou de madrugada, na rua de paralelepípedo, asfaltada ou no campinho sujo de lama ou quem sabe até na sala de casa, só precisa de uma bola, ás vezes nem isso, uma garrafa plástica, uma latinha de cerveja e um par de chinelos pra marcar a baliza já é o suficiente.

Pro peladeiro não tem distância, Leblon, Campo grande, Baixada e Ilha e logo ali, é só marcar que ele aparece por lá, na hora.

Tem gente que já foi a Paris e ficou encantado com a cidade luz, outros com o big ben em Londres, outros como eu ficam doidos quando chegam a primeira vez num belo campo “de grama” como o do curupaty em Jacarepaguá, ou ainda alucinados quando entra no maracanã para uma simples visita e olha que nem deixam pisar na grama.

O peladeiro joga na água santa, no campo do conceição contra o time do Olé, no Curupaty em jacarepaguá contra o time do 18, no aterro contra o Ajax, no Melo tênis clube contra o Colômbia ou contra o Vaticano, em Pavuna contra o Sambola, em Vista Alegre contra o Papa e em tantos outros campos de pelada famosos que mantém acesa a chama do autêntico futebol brasileiro. Poderia falar horas dos campos como o do Everest, o campo da rede no engenho de dentro (hoje Engenhão), da rua Cintra, do campo do curicica, da vila olímpica da gama filho, do Marcelino e do Ceres em realengo/bangu, do campo do falcon em Campinho, da vila olímpica da mangueira, do rato molhado na beira da linha amarela, do caiçara, do caça e pesca, do campo da CAIXA e o da light no grajaú, mas seria impossível homenagear todos os campos deste imenso mundo das peladas.

Desculpem se esqueci de algum campo, mas é que infelizmente não consegui jogar em todos os campos de peladas que gostaria.

ONDE ELE SONHA JOGAR?
Queria a todo custo fazer uma ode ao peladeiro e a pelada, tentei chegar perto, mas se não foi tudo que deveria ter sido, faço uma última homenagem: o sonho acordado do peladeiro, sonho que acontece quando ele vai deitar e ainda está sem sono, sonho acordado que vai jogar “a pelada perfeita” (parafraseando os surfistas) no “campo dos sonhos” com os seus ídolos.

Nela jogariam um escrete de ouro: Pelé, Garrincha, Zico, Cruyff, Falcão, Zizinho, Romário, Puskas, Beckembauer, Dominhgos da Guia, Leônidas, Gerson, Tostão, Sócrates, Reinaldo, Ronaldo fenômeno, Leandro, Cerezo, Didi, Maradona, Junior, Messi, Di Steafano, Platini, Rivelino, Ronaldinho gaúcho, Tigana e muitos outros. O futebol ia ser maravilhoso, o churrasco de primeira, a resenha show, agora no hora do par ou ímpar... deus me livre!

Rio é meu quintal, pelada é fundamental!

Sou peladeiro pô! Olha meu crachá..., e como autêntico peladeiro, tenho muitas histórias e estórias pra contar, pena que tempo não há, mas se tiver uma pelada em qualquer lugar e quiser socializar, me chame, que eu não vou faltar.

Um forte abraço do
Serginho5bocas



BARCELONA 4X0 SANTOS - DEZEMBRO DE 2011

Antes do jogo...
já havia uma “quase” certeza de que o Barcelona venceria o Santos, até com uma certa facilidade. Só não podíamos acreditar cegamente no óbvio porque o futebol vive nos pregando peças, é um dos poucos esportes em que o mais fraco pode vencer o mais forte. O Barcelona tem uma equipe fortíssima e tem no banco de reservas outros talentos que não deixam a “peteca” cair, já o Santos se agarra em 2 ou 3 talentos individuais para resolverem tudo, é muito pouco. Infelizmente não deu a zebra que recentemente fez o Inter vencer o próprio Barcelona e o São Paulo vencer o Liverpool. O futebol não mudou, continua a ser um esporte simples e belo, o que mudou foi o ator principal, o protagonista, agora quem dá as cartas, são os espanhóis, não mais os brasileiros.

O jogo...
foi a vitória de um time sobre outro, não do talento individual de Messi ou de outro jogador, foi a vitória de um conjunto das individualidades. O Messi não consegue conduzir a Argentina ao topo porque “amarela”, mas porque não tem tão boa companhia dos hermanos e os técnicos argentinos não conseguem formar uma grande equipe, apesar de possuir bons jogadores. Xavi e Iniesta sozinhos são bons jogadores, não são craques fabulosos, mas quando estão juntos ficam fortíssimos. Puyol, Abidal, Mascherano e todos os outros jogam na defesa azul e grená não são objetos de desejo de outros clubes, se saem bem porque existe um sistema de jogo que facilita e potencializa suas virtudes e omite seus defeitos, existem muitos zagueiros melhores do que eles. Acho que o mérito foi do futebol (ainda bem), pois dá uma tristeza muito grande quando equipes medíocres vencem as que jogam bola, perpetuando o futebol de resultados.

O estilo...
do Barcelona é tocar a bola com calma e qualidade, mantendo a posse dela em primeiro lugar, quando perde a posse, sai em bloco em busca de recuperá-la encurralando quem está com ela, assim, o adversário dificilmente dará seqüência de jogo e a bola fatalmente voltará a seus pés, num circulo vicioso vital para atingir seus objetivos, pois só cria oportunidade quem está com a bola. Quando o ataque adversário supera sua linha de 7 jogadores de “blitz”, os 3 que jogam de zagueiro não possuem o menor escrúpulo em fazer falta simples com o intuito de parar a jogada e dar tempo da equipe voltar por completo. Eles descansam quando estão com a bola e se esforçam muito, correndo demais para tê-la de volta quando a perdem, assim conseguem imprimir um ritmo forte até o final do jogo. Sempre que estão com a bola, os que não estão com ela no pé, se deslocam constantemente facilitando recebê-la, nada de novo, só que muito difícil de reproduzir, ou alguém esqueceu da velha máxima: “quem desloca recebe, quem pede tem preferência”, velho como amarrar cachorro com lingüiça.

Messi x Neymar
é até covardia comparar um com o outro por apenas este jogo. O messi joga no melhor time do mundo e o Neymar joga num time que hoje não é nem o melhor do Brasil. Sem contar que Messi já tem mais de 24 anos, tendo ido a duas copas do mundo e vencido vários títulos que ainda faltam a Neymar. Hoje Messi é indiscutivelmente o melhor, se alguém ainda tinha dúvidas, neste domingo foram dirimidas. Neymar tem apenas 19 anos e já é um dos grandes, é uma grande promessa sem dúvida e quem sabe poderá suceder Messi no trono. Mas a estrada é longa.

Os times
Barcelona é um time rico que oferece a seu treinador o que há de melhor para jogar e o Santos é um time pobre que tem feito engenharias financeiras para tentar manter seu melhor jogador. Há um enorme abismo entre as duas equipes. O Santos poderia ter vencido por sorte num contra-ataque bem encaixado, assim como o São Paulo e o Inter de Porto Alegre fizeram recentemente, mas não mudaria a verdade óbvia de quem é o melhor time do mundo neste momento. Vimos que a cada ano fica mais difícil para os times do Brasil e da America do Sul vencerem a final do mundial, daí a virada dos europeus em número de conquistas mundiais. Infelizmente a tendência é a de que esses números se ampliem mais ainda com o tempo. No Brasil falta mais talento fora de campo do que dentro, infelizmente.

Os treinadores
Muricy ficou imobilizado, não sei se encantado ou apavorado com o que estava presenciando. Tudo que ele aprendeu durante estes anos foi pouco perante o time que enfrentou. Não dá para comparar as estruturas que ele e Guardiola possuem, mas ficou claro que o time catalão tem a cara do treinador. Um futebol simples e objetivo em que prevalece a qualidade técnica dos jogadores e muita movimentação. Reparem que no meio de campo deles, não tem nenhum daqueles cabeças-de-área (argh!) ou volantes de contenção, que estamos acostumados a ver desfilarem pontapés por aqui e acharmos normal e no ataque fiquei procurando o centroavante paradão esperando aqueles cruzamentos que dificilmente os encontram e não encontrei-o até o fim da partida. São vários jogadores chegando ao ataque e voltando rapidamente para defender. Volto a repetir que isso não é novo, estava esquecido, enterrado pelos grandes mestres do apocalipse do futebol romântico. Agora o melhor disso tudo é que não vimos aquela gritaria de beira de campo dos técnicos tão comum no campeonato brasileiro. Guardiola dava algumas instruções de vez em quando ao jogador mais próximo à linha lateral e Muricy ficou estático dentro do seu boné sem expressar aqueles palavrões que costuma proferir a beira do gramado. Ficou provado que técnico não ganha jogo esperneando a beira do campo, mas muito antes da partida começar.

A lição
que bom que aconteceu em 2011, assim teremos tempo de refletir sobre o que temos jogado ou o que não temos jogado e pensamos que jogamos. O futebol brasileiro estava presente, só que do outro lado do campo. Agora é reaprender a andar.

A escola
O Barcelona não trouxe algo totalmente novo, exceto pela forte marcação que imprime o jogo todo e a doação de seus jogadores na mesma proporção. Fazer questão de ter mais posse de bola é uma característica antiga, que foi resgatada (graças a deus) pelos catalães com muita propriedade. A Espanha depois de tantos “quases” em copas do mundo e competições européias, enfim iniciou uma fase de vitórias, vencendo uma Copa uropeia de seleções e a última Copa do Mundo, sem contar os títulos do Barcelona. Eles vem tentando criar uma escola de futebol, não que seja uma inovação, mas sim uma evolução de conceitos que estavam esquecidos por nós brasileiros e que nós torcedores tanto apreciamos, o tão propalado de forma ás vezes até jocosa, futebol arte, um viva aos espanhóis que ajudou a resgatar este conceito que muitos jovens não acreditavam que existiu, o futebol arte, OLÉ!

Um forte abraço do
Serginho 5bocas