Batendo Boca com o 5Bocas

sábado, julho 02, 2016

É MUITO DIFÍCIL SER PELÉ...ENTENDE?

Antes de Pelé surgir para o mundo do futebol, ninguém conhecia a realeza, ainda não havia nascido alguém capaz de encantar a todos e carregar o imenso fardo de ser o melhor sempre. Ninguém imaginava que alguém pudesse ser tão poderoso.

O mundo só foi conhecer o Messias na copa de 1958, nos gramados da Suécia, em parcos quatro jogos, mas nós brasileiros, tivemos mais sorte, um pouco antes, em meados de 1956, sua majestade já encantava por aqui com dribles e gols.

Nelson Rodrigues foi o primeiro, apesar de míope, enxergou todo o talento daquele moleque franzino, mas que já “gastava” a bola como gente grande. Num jogo em que o Santos venceu o América por 5x3, Pelé encaçapou quatro bolas e ai o genial Nelson não se conteve e o chamou de Rei, isso mesmo, aos 17 anos, antes de todos, ele vaticinou o que depois ficou óbvio para todo mundo, que só tiveram o trabalho de homologar.

Então porque não é fácil ser Pelé, até mesmo para o Edson?

Porque Pelé não foi um jogador de futebol como os outros, não tinha uma habilidade especifica que o diferenciava, ele era acima da média em quase todos os fundamentos e fora do campo cuidou da sua imagem como poucos, nasceu para a realeza, essa era a diferença.

Pelé aos 17 anos debutando no cenário internacional, deu show na sua primeira copa do mundo na Suécia, quando em 4 partidas marcou 6 gols, sendo que na final se eternizou com um gol em que dá um lençol no zagueiro e sem deixar a bola cair bate pro fundo das redes, um golaço para a historia pela beleza, pela dificuldade em executar o lance e pela precocidade.

Já aos 29, fez 4 gols em 6 jogos da Copa do México, fez um gol de cabeça espetacular, inventou jogadas de futebol que assombraram o mundo, pegou a Copa e botou no bolso, quando muitos diziam que ele estava acabado para o futebol. A fera jogou quatro copas e ganhou três, fez gols em duas finais de copa do mundo, diga-se de passagem, dois golaços, inigualável.

A diferença dele para os outros é que ele parecia ser muito experiente quando tinha apenas 17 anos e lembrava um garoto na maturidade dos 30, esse era o segredo do rei: maduro ou jovem a qualquer tempo, só que ninguém mais conseguiu repetir este feito.

Fez mais de 1200 gols e ganhou todos os títulos que disputou muitas vezes, ele não jogou em um time milionário que o fez aumentar de tamanho, ele fez o Santos ser o maior do mundo e mais temido. O Santos nunca foi tão grande antes nem depois da passagem do rei por lá.

Ser assim, custa caro e Pelé pagou o preço quando comemorou 50 anos, jogou um amistoso festivo pela seleção brasileira frente a uma seleção de craques do resto do mundo e por não ter feito gol e jogadas acrobáticas, teve gente desconfiando que aquele quase coroa foi essa “coca-cola” toda. Não posso deixar de falar que se Rinaldo (ponta da seleção naquele jogo) não fosse “fominha” e tivesse passado a bola, em vez de tentar um chute sem ângulo, ao rei livre na área marcar, a historia seria outra. 

Agora imagina ser comparado ao Pelé sem ser Pelé? Suicídio!

Vários craques chegaram perto, mas todos ficaram pelo caminho.

Di Stefano começou a jogar antes do rei e fez historia na Europa, comandando o histórico Real Madri, um time recheado de estrelas e super campeão do continente, mas em copas do mundo foi medíocre, uma passagem discreta pela Espanha na copa de 1962, não dá pra comparar.

Eusébio, a pantera negra de Portugal, talvez, por ter comandado a eliminação do Brasil de Pelé em 1966, chegou a ser comparado ao rei, mas a carreira não teve a continuidade e as comparações foram arrefecendo. Era rápido, forte, fazia muitos gols, ganhou títulos e premiações importantes, mas ficou longe demais.

Cruyff era o jogador do campo todo, elegante e cerebral, lia o jogo, uma máquina de jogar e de fazer seu time jogar, mas não fazia gols como o rei, não foi campeão do mundo, mas ainda assim, foi um dos que chegou mais perto em termos de qualidade e de respeito e temor dos adversários.

Beckembauer foi outro da lista, elegante, excepcional com a bola, foi um zagueiro, líbero que comandava seu time e sua seleção como um líder nato, saia de trás organizando o jogo, driblava bem, fazia gols e defendia como poucos, mas perto do rei, ficava pequeno.

Em nosso quintal, Zico, apesar de não ter vencido uma copa do mundo, tinha o estilo de arco e flecha, aquele jogador que vem do meio armando jogadas e concluindo na área, cabeceava bem, batia fácil com as duas pernas, talvez tenha sido o maior batedor de faltas que o mundo viu, mas não foi tão monstruoso, ser lembrado pelo próprio rei, já foi uma honra.

Maradona, foi o jogador canhoto mais espetacular que o mundo já viu, mas não era o mesmo com a direita, não cabeceava como o rei e em termos de títulos e de gols, ficou a léguas, o segundo lugar está de bom tamanho pra quem jogou quatro copas e ganhou uma espetacularmente.

Garrincha foi uma alegria literalmente, as pessoas iam ao estádio para vê-lo, torciam para a bola chegar aos seus pés na ponta direita, e não era apenas um “showman”, a alegria do povo, também ganhou copa do mundo com e sem o rei, mas não foi tão eficiente nem tão vitorioso, fica um pouco atrás.

Ronaldo, foi espetacular muito jovem, ganhou duas copas das quatro que esteve, foi artilheiro de uma e fez mais gols que o rei em copas, mas talvez as contusões tenham reduzido suas chances de igualar ou ultrapassa-lo, muito cedo sofreu lesões gravíssimas, uma pena. Era uma grande aposta para poder bate-lo, um dos poucos que também foi especial tão jovem, mas também não deu.

Messi, era o candidato recente mais cotado, craque especial e precoce como o rei, venceu mundial de juniores, ganhou ouro em olimpíadas e no Barcelona venceu tudo que se possa imaginar. Na seleção da Argentina não foi tão efetivo, perdeu final de copa do mundo, finais de copa América e definitivamente não há mais como chegar, uma pena.

Por tudo isso e mais um pouco é tão difícil ser Pelé...

Pelé foi mais do que um jogador, do que um atleta, foi uma marca, um selo. Quem nunca disse uma vez na vida: “aquele cara ali é o Pelé do basquete” ou utilizou essa expressão para dimensionar a grandeza de alguém em qualquer outro esporte ou atividade.

Por isso, que volto a afirmar: É muito, mas é muito difícil ser Pelé, entende? 

E você o que acha?

Um forte abraço
Serginho5Bocas