Batendo Boca com o 5Bocas

sábado, abril 07, 2012

UMA ODE A 5BOCAS


Há pouco tempo, no final do ano passado enviei uma mensagem homenageando o time do 5bocas e seus jogadores para o Sergio Pugliese de O GLOBO e para minha surpresa e felicidade ele decidiu postar em seu blog no mesmo jornal.
A galera do 5bocas ficou muito agradecida com a homenagem e eu nem tive como agradecer totalmente e registrar o sucesso que foi. Engraçado é que hoje quando decidi reativar meu antigo Blog "Batendo boca com o 5Bocas", fui ao blog do Xará (Pugliese) e reparei que havia um comentário postado na mensagem. Para minha surpresa o comentário era do Sergio Sapo, meu ídolo do futsal e companheiro de comentários no blog do Zico (ziconarede). Antes tarde do nunca, valeu pela moral Sergio.

Abaixo segue o link para a matéria do blog do Sergio Pugliese: http://oglobo.globo.com/blogs/pelada/?a=863&periodo=201112

E aqui uma cópia da matéria enviada

Olá, amigos!
Como sabem a coluna volta a ser impressa no dia 21 de janeiro, então para encerrar o ano decidimos como homenagem a todos os peladeiros que passaram pelo blog, publicar o texto de um boleiro habilidoso com a bola nos pés e com as palavras.
Serginho 5Bocas nos mandou um ótimo texto exaltando seu time de pelada, o 5 Bocas. De forma apaixonada, ele cita cada companheiro de um time que marcou época, uma verdadeira reverência aos peladeiros de fé, que têm na ponta da língua uma escalação clássica do time de coração, uma formação que para cada grupo está no mesmo panteão das grandes seleções da história do futebol mundial.


UMA ODE A 5BOCAS

Se fosse um vinho, seria um cabernet, coisa fina,

se fosse um filme, Fellini ou Spielberg assinariam a direção,

se fosse uma comida, um bacalhau, caprichado no alho,

se fosse um chocolate, seria suíço com certeza, mas era futebol,

um time de pelada, o time das 5bocas, aquilo era um tesão de jogar, quantas saudades.


Um período maravilhoso de nossa juventude, jogos memoráveis, medalhas, troféus, fotos, histórias engraçadas, amigos para sempre e uma ponta de saudade que não se vai. Era o time das 5bocas, todo mundo “duro” e feliz da vida saindo pro jogo de “buzão”, maior sufoco pra comprar uma chuteira e um brilho nos olhos quando via a bola rolar. Abaixo vou descrever o quem é quem:

Marquinho era o craque do time, jogava o fino, só dois toques e olhe lá. Foi junior do Vasco da Gama e quase emplacou, foi contemporâneo do Marco Antonio Rodrigues, que foi “profissa”. Uma pena que teve que ajudar em casa, ai veio a Gama Filho e formou um engenheiro pro mercado.

Vanusa o diabo louro, raçudo e maluco, o nosso Heleno de Freitas! Jogava muito, mas sempre irascível e temperamental, brigava até com a sombra que não queira correr (ao seu lado) em dias de chuva. Hoje é empresário do ramo hospitalar.

Manel era o nosso ponta (de cigarro) lento, que vivia triste, pois seu fôlego não o deixava conhecer a linha de fundo, amigo do lateral adversário (não fazia mal a ele) e debochado, sacaneava tanto a galera que quando fazia gol, corria para um lado comemorando e o resto do time ia pro outro, já sabendo que seria papo pra uns dois meses pelo menos. Agora engana na Embratel, grande caolha.

Jurandir foi o melhor atacante de pelada que vi jogar, era só lançar pra ele e correr pro abraço. Pra parar o baixinho habilidoso, só com AR15. Como se metia em encrencas, mas ai é outra história, e longa. Meu ponta sumiu, cadê você rapaz?

Nenem foi o “Platini” das 5bocas, tão frio quanto clássico, mas o copo falou mais alto e hoje é o gerente financeiro da pelada. Não toca na bola há uns três anos, só cerveja e o caderno da mensalidade da rapaziada, uma pena, mas a confecção agradece.

Ivan foi nosso mascote, jogou pouco tempo pela pouca idade e as más línguas dizem que tinha vaga no time porque tinha carro grande, uma maldade. Anda fazendo camisas na confecção e alegria da garotada na escolinha do Marabu.

Birinha era show de três dedos, não batia de chapa nem de peito de pé, nem que a vaca tussisse. Estiloso e preguiçoso, não marcava ninguém e ficava conversando com a galera do alambrado enquanto o couro comia, ás vezes a gente queria matar aquele cara, mas tudo numa boa. Não sei por onde anda, mas deve estar batendo de triva como nos velhos tempos.

Fael foi o nosso grande lateral esquerdo, um carrapato, só não podia desarrumar o cabelo, ah! coitado, corria, marcava, se sujava todo, mas saía do campo com o cabelo coladinho no casco, às vejo ainda o vejo lá nas 5bocas.

João Neguinho sabia tanto de bola que virou uma, como bebe e come o garotinho, se tivesse esse apetite todo pra fazer gol tinha passado dos 1.000, uma pena. Agora é funcionário público, só carimba e arquiva, seis horinhas quando dá, valeu?

Alex era uma garantia no gol, garantia que íamos tomar gol, se ficasse puto com alguém fazendo corpo mole, pronto! O cara enlouquecia e a nós também, entrava tudo, parecia um queijo suíço, mas era intocável, também só tinha ele. Cuidado pra não entrar no táxi dele, ele pode explodir.

Milton o Cirilo, era o nosso filósofo, soltava cada pérola. Se tinha jogo no dia seguinte ele passava por você e gritava: Serginho, o jogo foi descancelado (sic)...e agora? Chupa essa manga! Não sei por onde anda, mas deve estar feliz com o Vascão.

Marcelo Cabeção (in memorian) só fazia m.... era uma carga de dinamite com um pavio minúsculo, jogava e batia, se a bola passasse já viu, era uma enchadada e duas minhocas, digo, canelas. Está no céu, fique com Deus, irmão.

Jorjão era nosso cavalo de aço, o cara era um monstro na zaga, cara de mau, barba por fazer, mas era tudo estampa, não dava porrada, só jogava bola, e quanta bola! Sumiu pelas bandas do Méier.

Paulão era o Aldair das 5bocas, ou quase, né Paulão? Tentava jogar limpo, mas se o cara passasse, Deus me livre, batia doído, um “gentleman”. Deve estar jogando sua bolinha na caserna.

K-duco era bom de bola e de treino, porque dia de jogo não aparecia, a ressaca do Salgueiro não deixava as pernas correrem, tomava todas e mais um pouco. Foi visto outro dia desses entrando num bar...

E pra fechar os trabalhos uma homenagem ao Arnaldo, nosso mecenas, o cara tinha um físico de atleta (de sumô) e queria jogo. Dono da bola, do uniforme, do único carro (o Chevette vinho), do peixe frito e de uma paixão pelo Botafogo de se admirar. Um dia, reza a lenda, que ele no campo do Curupati, entrou perdendo de 6 a 1, fez dois, sofreu um pênalti que virou outro gol, e saiu ovacionado com sua chuteira Club Sul embrulhada num saco das Casas da Banha. Só acredito porque eu estava lá. Deu pena do goleiro do time do “dezoito”, não me lembro o nome, mas era gordinho também. O Arnaldo saiu abraçado ao cara, sacaneando e rindo a toa, afinal, aquele tinha sido o seu dia. Mesmo com a derrota, ele foi o cara. Ganhou a suíte Champion, o motorádio e dormiu abraçado a “cremilda”, afinal abraçado ao canhão morre o artilheiro...Agora conta historias no seu amarelinho lá do outro lado da poça.

O tempo passou e parece que foi ontem. Alguns ficaram carecas, outros barrigudos, outros nunca mais vi, mas a amizade continua e também o bom humor. Fiz esta homenagem a todos eles, pelo que me proporcionaram, apesar do humor ácido, foi com muito amor. Adorei jogar e conviver com eles e pra quem pensa que acabou, nem pensar. Sou um diplomata daquela esquina, falo sempre que posso daquele grupo e daquela época pra todos, inclusive usando como alcunha em meu nome, com muita honra.

Um forte abraço
Serginho 5bocas

A MAIS DOCE DERROTA DO 5BOCAS

A MAIS DOCE DERROTA DO 5BOCAS...

Em 1º de maio de 2012 estará fazendo 20 anos que o melhor time de pelada que participei perdeu uma final de campeonato histórica. Considero aquela partida, como a derrota mais gloriosa do meu time, o “5bocas”. A derrota, apesar de doída, nos ensinou muitas lições, entre elas: Superação de estar perdendo no primeiro tempo por 4x0 e reunir forças para vencer o segundo tempo por 5x2, mesmo ciente de que na soma total dos dois tempos (5x6), não tenhamos vencido o jogo. Respeito por todos os amigos e fãs que foram torcer por nós naquele dia e ficaram frustrados e atônitos ao ver sermos literalmente “atropelados” no primeiro tempo e depois felizes pela nossa recuperação sensacional no segundo, num final de jogo de tirar a respiração e finalmente de reconhecimento, pois ambos os times saíram de quadra cientes de que tinham enfrentado uma grande equipe e que qualquer um poderia ter vencido.

Mas vamos lá que o resto é história...


Priiiiiiii! Apita o arbitro o fim do jogo, o time base adulto de futebol de salão do Mackensie do Meier naquele 1º de maio de 1992, vence por 6x5 o time de pelada das 5Bocas. Aquele 1º de maio não seria o último torneio do dia do trabalho no clube diamante no engenho de dentro, mas com certeza o mais emocionante no qual eu participei, apesar da derrota e do vice-campeonato. Naquele dia perdemos a possibilidade de sermos tri campeões, pois havíamos vencido em 91 e venceríamos novamente em 93 o torneio de futebol de salão mais desejado daquele lugar, mas de qualquer modo, acho que fizemos história por aquelas bandas, isto é o que conta passados tantos anos.
            Voltando 34 anos no tempo, mas precisamente em 1978, em que a primeira formação do time das 5 bocas foi montada, já faziam parte de suas fileiras Serginho (este “pseudo” escriba) e o Manel ambos com 11 anos, que com o tempo se juntariam ao Vanusa, Jurandir, Ivan, Neném, Alex, Foat, Jorjão, Fernando, Marcelo Paz, Milton, Iran, Cesar, Dinho, Jorginho do Ríver, Formiga e tantos outros.
            Time gerenciado pelo polêmico Arnaldo, misto de técnico, mecenas e jogador, que na véspera de cada partida, erguia um mini quadro negro na parede do bar e com giz branco, escalava o time que sairia jogando no dia seguinte. Aquele ritual era o que havia de melhor antes dos jogos, pois ficávamos com muita ansiedade para saber se estávamos escalados, mas também gerava uma confusão dos diabos, pois nunca conseguiu agradar a todos. Porém, a galera adorava jogar naquele time, se encontrar naquele bar, discutir aquelas resenhas e comer o peixe que ali era frito para saborearmos após os jogos, comemorando as vitórias ou chorando as magoas nas derrotas, “sempre injustas” pra variar.
            Bar de esquin,a de 5 ruas entrelaçadas e abençoadas pelo seu “Tião”, pai do Arnaldo e o dono do estabelecimento naquela época, uma figura mítica, um botafoguense alucinado e supersticioso (desculpe o pleonasmo), que adorava dar conselhos e fiados e lembrar sempre que Garrincha era muito melhor do que o Pelé e que Zico não servia nem pra limpar a chuteira do Mané. Um grande ser humano que nos deixou na saudade indo para o céu após a copa do mundo de 1994 e que pouco depois disso, talvez pela sua própria ausência, antecipou o fim daquele bar, daquele time e daquela época. Um tempo depois já na década de 2000 participei de um concurso de crônicas no site Ziconarede tendo uma crônica entre as quatro premiadas com um texto que homenageava aquela esquina, com o seu Tião e o meu grande ídolo Zico como pano de fundo.
            Voltando àquele 1º de maio de 92, em que fomos vencendo todo mundo até sermos batidos na final pelo time adulto do Mackensie por 6x5, resultado que na época foi muito contestado por acharmos que ocorreram erros de arbitragem (filmados e não filmados). Jogo que reza a lenda chancelada por alguns torcedores “doentes” pelo 5bocas, que foi arranjado para nos eliminar, impedindo o tri, mas que na realidade hoje friamente posso afirmar que qualquer um que vencesse seria justo.

Lá no fundo, talvez tenha sido até mais justo que eles tenham vencido naquele dia, pois eles tinham ótimos jogadores (Tatu, Marcos Vinicius, Marquinho e Beto no gol), mais organização tática no posicionamento em quadra e tiveram a sorte e o talento em momentos cruciais da partida. Quanto a nós, tínhamos talentos para enfrentá-los, mas éramos um time de pelada, com ótimas opções individuais, mas sem jogadas ensaiadas, sem tática, um futebol “bruto”, pois tinhamos um entrosamento intuitivo, nada ensaiado.

Naquele dia, por incrível que pareça, entramos tranqüilos e achando que poderíamos vencê-los, mas com poucos minutos, eles aproveitaram algumas bobeadas de nossa defesa e abriram 2x0 em apenas 7 minutos, com uns 15 minutos já estavam com 4x0 e a maioria dos presentes na quadra, nos vaiavam e nos provocavam com cânticos. Lá pelo final do primeiro tempo é que conseguimos reagir e chutar em gol pela primeira vez. Acho que nunca torci tanto para um intervalo chegar como naquele dia.

Fomos para o intervalo e sentamos na quadra, houve um silêncio inicial que não era comum e depois todos falavam ao mesmo tempo, estávamos atordoados e não entendíamos o que estava acontecendo, todos tínhamos a solução para aquele problema, mas não conseguíamos pôr em prática. Lembro de uma única coisa que foi falado, mas não lembro por quem, que norteou nossa reação no segundo tempo. Acho que foi algo mais ou menos assim;    “Pessoal, o que está havendo? Vamos entrar no jogo? Perder tudo bem, mas dessa forma?
Só sei que voltamos diferentes e passamos a marcá-los por pressão, fomos pro tudo ou nada, já que perder de 4 ou de 10 não faria a menor diferença.

Todos ficamos envergonhados e voltamos com outro espírito e acreditando na reação. Foi muito bacana ver a doação de todo mundo que mesmo cansados, nos multiplicávamos em cada dividida e em cada chute à gol, conseguindo encontrar forças para pressionar a saída de bola deles e reagir heroicamente, quase empatando a partida.

Quando o juiz apitou o final da partida veio na hora o gosto amargo da derrota, uma tristeza sem fim, por achar que se tivéssemos mais tempo poderíamos empatar e até vencer e uma sensação frustrante por não termos iniciados a partida naquele ritmo.
Ninguém quis brigar ou ficar reclamando do juiz, muito pelo contrário, apesar de acharmos que fomos prejudicados pela arbitragem em lances capitais, ao invés disso, demos os parabéns a eles pela vitória na bola. Eles souberam tirar proveito da nossa sonolência inicial e administrar a nossa reação sem partir para a violência, jogando na bola.

Ao final do jogo, o Jaime “Vanusa” que fez o mesmo número de gols do Marquinhos do time deles, abriu mão da medalha de artilheiro e deixou ele levá-la já que não havia como premiar os dois.
O Sergio Creder que ficou de filmar todo o torneio para guardarmos uma recordação, filmou quase tudo, desligando a máquina justamente quando iniciamos a reação no 5x2 para eles, ficou nos devendo 3 gols e um dos campeões.
O técnico deles convidou alguns de nós para fazer parte do grupo deles que iria disputar o campeonato metropolitano do Rio de janeiro pelo Mackensie.

Por fim, no meio de tantas vitórias que seria bem mais lógico contar, escolhi justamente uma derrota a fim de mostrar o espírito daquela rapaziada que acima de tudo, sabia ganhar e perder na bola. Queria contar uma história bacana em que o resultado final da partida não fosse o que há de mais importante. Pensei em deixar uma mensagem de força e de união, pois o mais legal disso tudo, é que saímos tão fortalecidos naquele dia, que voltamos no ano seguinte e vencemos novamente, apesar de nunca mais enfrentarmos aquela equipe que nos venceu. E vejam só que ironia, pois das 12 partidas (4 por ano) que fizemos nos 3 torneios de 1991, 1992 e 1993, a única derrota que sofremos, foi a que me trouxe a inspiração para escrever e compartilhar com todos os peladeiros.  Afinal, quantas derrotas sofremos todos os dias na bola e na vida e que na maioria das vezes nem temos a chance de vingá-las?


Pra minha grata surpresa o Sergio Pugliese do OGLOBO também postou esta crônica.
Segue o link para o Blog da "Pelada como ela é":
http://oglobo.globo.com/blogs/pelada/
Um forte abraço
Serginho5bocas