Batendo Boca com o 5Bocas

terça-feira, abril 30, 2013


PELADA DE VERDADE – Capítulo IX
Os uniformes novos


O ano era 1978, pouco antes da Copa da Argentina e nós jogávamos pelada em uma rua de paralelepípedos, reproduzindo as jogadas de nossos ídolos e nem imaginávamos em um dia usar um jogo de camisas como aqueles que víamos nossos ídolos usando no Maracanã.

Não tínhamos baliza nem marcação do campo, a bola era uma extinta “dente de leite” furada, que de tão murcha era pesadinha feito uma bola de futebol de salão,  e a baliza, era a parede do vizinho que tinha o desenho perfeito de traves, como manda o figurino.

Jogávamos a famosa rebatida de praia, ou seja, 2 para cada lado, chutando e agarrando. O gol ficava sempre nesta casa em frente a minha, pois o desenho na parede remetia as balizas de um campo de futebol, não havia lugar melhor.

Tudo era escasso, uma dificuldade enorme, mas era muito divertido, já que a carência gera criatividade e celebração das mínimas conquistas.

Um certo dia, mudou-se para lá um novo morador que parecia ter uma situação financeira muito boa. Ao perceber que o jogo de futebol da meninada era na sua porta, tratou de nos convocar para um bate papo e logo fez uma proposta “indecente” para nós: um jogo de camisas novinho do America em troca de não haver mais pelada em sua parede.





Da esq. p/ dir: Budaia, Ricardo mentirinha, Idelmar, Carlinhos; Manel e Serginho
Foto de 1978


Acertou de bate pronto em nossos corações e topamos na hora. O combinado era duro de cumprir, mas tudo pela bola enquanto durasse nossa promessa.

Passados alguns dias, uniforme inaugurado e lá estávamos nós de novo, jogando na parede do cara. “Aquilo” era bom demais, não havia “campo” melhor do que aquela parede, o que fazer?

Passado algum tempo, nova convocação e fomos convencidos novamente a não jogarmos mais futebol no “estádio” em troca de um uniforme “completo” preto e branco, com camisas, calções e meiões, tudo combinando,

Nem no melhor dos sonhos, poderíamos acreditar que aquilo era real. Agora tínhamos roupa nova e linda.

Lembro que nas vésperas de jogos, quase nem pegava no sono, tal a ansiedade em jogar com o manto.

A promessa também não durou muito. Logo estávamos jogando novamente naquele “campo” maravilhoso, éramos muito sem-vergonhas.

Só que não tivemos a oportunidade de renegociar com o ilustre morador novamente, pois numa manhã de sábado, carros da policia federal pararam em sua porta e levaram nosso mecenas algemado, levamos tempo para entendermos o que aconteceu.

Aquilo foi uma ducha de água fria para todos nós. Como pode um homem bom daqueles ser preso? - Nos indagávamos uns aos outros.

Só sei que depois daquele episódio, nunca mais fomos agraciados com novos uniformes de patrocinadores, muito pelo contrário, passamos a nos organizar e comprar novas camisas para jogarmos os nossos saudosos “time contra”, seja lá onde fosse.

Passados tantos anos, sinto uma saudade enorme de colocar um uniforme “novo” e jogar uma pelada como aquela descompromissada e tão aguardada que nem dormíamos na véspera de tanta ansiedade e tesão no jogo.

O tempo passa, mas a magia infantil com a bola permanece em nossas mentes...


Um forte abraço
Serginho5Bocas
sergio5bocas@gmail.com


OS GRANDES PERDEDORES
 

ZIZINHO

 
 

Quando menino meu pai (tricolor) dizia que Pelé havia sido o maior jogador de futebol que tinha visto jogar, mas que não tinha toda a certeza disso porque houve um jogador chamado Zizinho, que por sinal era o ídolo do rei Pelé e de muita gente boa. Meu pai dizia que Zizinho ou Mestre Ziza era um eterno condenado e sem prescrição da pena, ele, ao lado do goleiro Barbosa, eram os líderes de toda uma geração de condenados, os “perdedores” da Copa de 50.

Mestre Ziza foi um gênio de futebol, entretanto carregou o gosto amargo da derrota em casa na final da copa de 1950. O pior é que depois disso, ainda teve que pagar um alto preço por liderar um protesto, que culminou com seu afastamento de novas convocações do escrete canarinho, mas talvez a seleção do Brasil tenha se saído pior nesta história, pois abrir mão de um talento como aquele tem muito a ver com a insensatez que reinava e ainda reina nos meandros do poder do futebol brasileiro.

Já no final de carreira quando jogava no Bangu, foi contratado pelo São Paulo e aos 37 anos, liderou o time rumo ao título do campeonato paulista.

Em entrevista mais recente, ele disse que após a convocação de todos os jogadores para a copa de 1958, ligaram para ele e fizeram um convite para que ele fosse a copa da Suécia comandar a seleção em campo, mas educadamente ele recusou, disse não achar justo tirar a vaga de alguém que já estava sonhando com a participação na copa, o jovem Moacir.

Justo, ético e humano, só mesmo um gênio para praticar um gesto de nobreza e altruísmo como esse, algo raríssimo nos dias de hoje, coisas de uma época mais romântica do fuebol.

Zizinho foi considerado o melhor jogador da copa de 1950 e um dos maiores de todos os tempos.

 

PUSKAS

 

 

O major galopante foi o grande líder do grande time do Honved e da seleção húngara a inesquecível e quase invencível “magiar”.

Um time quase perfeito que tocava a bola com rapidez e objetividade impressionante. Muitos dizem que foram eles que inventaram o aquecimento antes das partidas, e que por isso entravam em campo a 1000 por hora e decidiam as partidas nos minutos iniciais, pois enquanto os adversários precisavam de um tempo para aquecer, eles já entravam em ponto de ebulição e isso fazia uma enorme diferença.

Ficaram por longos anos invictos e foram perdê-la justamente na final da copa do mundo de 1954, ficando com o vice após derrota por 3x2 para os alemães ocidentais, num jogo que ficou conhecido como a “batalha de berna”, pela sua dramaticidade.

Puskas sofreu uma entrada violenta no segundo jogo da copa, justamente contra os mesmos alemães ocidentais, ainda na primeira fase, quando venceram por 8x3. Essa contusão tirou-o de quase toda a copa, só retornando na final, quando fez o que seria o gol de empate (3x3) e que foi infelizmente anulado pelo árbitro.

Puskas ainda fez muito sucesso no futebol, desfilando sua enorme categoria e precisão, jogando pelo Real Madri na Espanha, também deu ares de sua graça atuando pela fúria espanhola após ter se naturalizado, em razão de problemas políticos internos e gravíssimos na Hungria que o obrigou a se asilar em outro País.

O canhotinha foi um dos maiores jogadores de todos os tempo e possui um recorde que nem Pelé tem, o de maior artilheiro de seleções nacionais em jogos oficiais com 84 gols em 85 jogos.
 

Puskas é o melhor jogador húngaro de todos os tempos e é considerado um dos maiores jogadores de futebol do mundo de todos os tempos.

 

CRUYFF



Foi o revolucionário do futebol, o maestro da laranja mecânica, nome dado ao time holandês durante a copa de 1974. Uma equipe que mudou conceitos futebolísticos e que nunca mais o mundo viu nada parecido.

Cruyff era jogador de todo o campo, buscava a bola lá atrás e a levava até a outra área com enorme facilidade e sem frescuras. Era difícil definir em que posição Cruyff jogava, tal sua impressionante movimentação por todos os espaços e sua capacidade de executar funções distintas.

Corpo esguio e elegante, se destacava num grupo de virtuoses, no meio de várias feras ele era a “FERA”.

Cruyff colocou, juntamente com seus companheiros, a Holanda no mapa do futebol, nunca antes nem depois se formou uma equipe nas terras baixas com tamanha qualidade e capacidade de enfeitiçar os torcedores.

Cruyff não venceu a única copa que participou, pois perdeu a final para a Alemanha ocidental, mas ninguém que presenciou aqueles 7 jogos dos laranjas, jamais vai esquecê-lo.

Ele ainda jogou no Barcelona e nos Estados Unidos, de volta para a Holanda encerrou a carreira passando pelo Ajax e Feyernood.

Cruyff foi o maior jogador holandês de todos os tempos e um dos melhores do mundo. 

  

ZICO




Foi o craque da melhor seleção pós 70 (era Pelé), aquela que encantou o mundo na Copa da Espanha em 1982. Seleção que ficou conhecida pelo jogo fácil e envolvente, de movimentação constante, posse de bola e belíssimos gols, uma pequena amostra do que se convencionou chamar de futebol arte.

Zico era craque, arco e flecha, aquele que arma no meio de campo e corre até a área para concluir com perfeição.

Zico tinha a facilidade do drible, a visão do campo e do jogo privilegiada, a capacidade de conclusão apurada e o passe como suas maiores qualidades. Apesar de ser um artilheiro mortal, ele não esquecia dos companheiros e não se cansava de dar passes milimétricos para que marcassem seus gols.

Zico foi senhor do mundo, rei na Itália e Deus no Japão, ídolo do esporte e pessoa admirada pelo futebol e pelo caráter fora das quatro linhas.

O futebol foi sua forma de se expressar, de mostrar ao mundo todo o seu talento e seu profissionalismo.

Zico foi o maior artilheiro do Flamengo e do Maracanã e o maior jogador de futebol brasileiro pós Pelé e um dos maiores do mundo.

 

PLATINI



Foi o comandante da maior geração de futebol francês de todos os tempos. Capitaneava um grupo que tinha ninguém menos do que Giresse e Tigana como companheiros e coadjuvantes.

Esse grupo apresentava um futebol refinado e de toques precisos e de alta categoria. Pareciam não fazer esforço para jogar bola. Apesar de não terem vencido uma Copa do Mundo não há como esquecer as lindas apresentações que fizeram principalmente em 1982. Pena não termos presenciado uma final entre a França e o Brasil naquela Copa, seria uma ode ao futebol arte.

Platini tinha extrema classe e categoria que era demonstrada quando se relacionava com a bola. Simplificava o que aparentemente era difícilimo no jogo e o fazia com tal qualidade que fazia parecer a coisa mais simples e possível a qualquer mortal.

Jogou 3 copas do mundo e encantou nas copas de 82 e 86, apesar de ter sido eliminado pela mesma Alemanha nas duas ocasiões, mas nada disso foi capaz de apagar seu brilho.

Iluminou os gramados italianos quando comandou a Juventus e foi eleito o melhor jogador europeu por 3 vezes consecutivas.




Eu não tenho dúvidas em afirmar que ele foi o maior jogador da França de todos os tempos com sobras e um dos mais clássicos do mundo.
 

O que todos estes supercraques tem em comum?
 

Todos foram mestres da coletividade sem abandonar e exprimir suas potencialidades individuais.

Todos eles foram legítimos representantes do futebol arte;

Todos eram os líderes incontestáveis de suas equipes.

O futebol bem jogado por eles está acima de qualquer suspeita e que nem mesmo o título de campeão do mundo que eles tanto desejaram e não conquistaram não apagou todo o legado que eles deixaram ao redor do mundo.

O mais intrigante disto tudo é que todos eles são mais lembrados do que muitos vencedores de Copa e são respeitados em todo o mundo como grandes do futebol mesmo sem ter alcançado a sua maior glória.

Pena da Copa do Mundo!   

 

Um forte abraço
Serginho5Bocas
sergio5bocas@gmail.com